Pandemia de Covid-19 foi um entrave no projeto da dupla, que durante lockdown e sem condições de tocar a obra, teve que dormir em uma barraca por duas semanas
Eles estavam originalmente procurando uma casa de férias, mas Alan Andrew, natural da Pensilvânia, e seu marido belga, Vincent Proost, se mudaram para Portugal em tempo integral depois de comprar uma fazenda abandonada na região do Alentejo.
O casal, que se conheceu em um encontro às cegas em Londres, em 2006, morava no Reino Unido há cerca de duas décadas quando começou a procurar um novo lar na Europa.
Embora nenhum dos dois tenha passado muito tempo em Portugal anteriormente, Proost, um designer de interiores, sentiu que poderia ser o lugar certo para eles e sugeriu que passassem algum tempo explorando o país juntos.
“Para ser honesto, eu estava mais interessado em lugares como a Itália”, disse Andrew. “Não conhecia bem Portugal”.
Depois de viajarem alguns meses pelo país, apaixonaram-se por Alentejo, que fica no sul de Portugal, a cerca de 190 quilômetros da capital Lisboa, e decidiram procurar por uma casa ali.
Projeto aventureiro
“Cada direção tem uma bela vista”, acrescenta Andrew, que trabalha como psicólogo educacional. “Para mim, é como uma mistura da savana africana e da Toscana”.
Eles visitaram cerca de 80 propriedades na área, antes de se depararem com uma casa de fazenda em ruínas localizada na vila rural de Figueira e Barros. Mas logo ficou claro que seria impossível salvar a casa, e isso estava prestes a se tornar um projeto muito maior do que eles pretendiam.
“Ela ficou meio que abandonada por cerca de 50 anos”, explica Andrew. “Então o telhado desapareceu completamente. Estava simplesmente desmoronando. Sabíamos que teria que ser uma construção do zero”.
Eles perceberam que teriam que se mudar para Portugal permanentemente para mergulhar na construção e se comprometer totalmente com a administração de uma fazenda.
“De repente se tornou um projeto”, diz Proost. “E eu fiquei tipo, ‘Ok, vamos nos mudar’. E então nós fizemos. Construímos a casa do zero pouco antes da pandemia, o que foi uma aventura e tanto”.
Depois de adquirirem a propriedade no verão de 2019, mudaram-se oficialmente para Portugal, alugando uma casa nas proximidades enquanto finalizavam a venda e passavam pelo processo de obtenção de residência.
A dupla também começou a se reunir com arquitetos e construtores para elaborar planos para sua nova casa antes de iniciar a construção. Eles decidiram primeiro transformar o celeiro da propriedade em uma “casa com piscina” para que pudessem morar lá enquanto o trabalho estava acontecendo.
Novos começos
Mas assim que as coisas começaram a andar, veio a pandemia de Covid-19. Inúmeros países ao redor do mundo, incluindo Portugal, entraram em lockdown, e o casal, que foi solicitado a sair de sua casa alugada, se viu sem ter para onde ir.
“Todos os hotéis estavam fechados”, explica Proost. “Então tivemos que dormir em uma barraca por duas semanas”.
Eles acabaram conseguindo ficar no celeiro, embora inicialmente sem eletricidade, enquanto esperavam o início das obras de reforma. Felizmente, o celeiro foi concluído em poucos meses e eles continuaram morando lá enquanto o trabalho na casa principal acontecia. A casa da fazenda original foi demolida em setembro de 2020.
“Durante muito tempo, realmente não podíamos deixar a área da nossa vila”, diz Andrew. “E tínhamos acabado de nos mudar para cá, então não conhecíamos ninguém. Éramos praticamente nós dois 24 horas por dia, 7 dias por semana na fazenda. De certa forma foi ótimo, porque tínhamos muito trabalho a fazer nos campos”.
O terreno do casal abrange 175 acres e inclui cerca de 1.500 oliveiras, que precisavam ser podadas. Eles também tinham animais para cuidar. “É um grande espaço ao ar livre”, diz Andrew. “É sempre socialmente distante aqui”.
As obras de construção da casa desaceleraram significativamente devido às restrições da Covid, e o casal foi forçado a ajustar suas expectativas. “A construção deveria durar um ano”, diz Proost. “Acabamos de terminar, o que é quase três anos. Portanto, demorou um pouco mais do que o planejado originalmente”.
Casa de fazenda moderna
A casa, a que deram o nome de Casa Baio, tem um sistema de aquecimento solar de água e está também equipada com painéis de energia solar.
“É muito bem isolado”, acrescenta Andrew. “Nas antigas casas tradicionais, as janelas são pequenas por causa do clima e agora, por causa da tecnologia, conseguimos colocar janelas maiores”.
Eles tiveram que aderir a vários regulamentos e entrar em contato com as autoridades locais para garantir que a casa atendesse aos requisitos especificados, principalmente no que diz respeito à altura e locais de construção. “Não poderíamos construir mais de dois andares”, explica Proost.
Embora descrevam a Casa Baio como uma “casa de fazenda moderna”, eles dizem que tentaram incorporar o máximo possível de materiais locais tradicionais, incluindo ladrilhos de terracota feitos à mão, juntamente com ladrilhos feitos de mármore local.
A casa principal tem cinco quartos e uma piscina exterior, enquanto a casa da piscina tem um quarto estúdio estilo kitnet. Eles se recusaram a revelar o valor que gastaram na construção.
Proost diz que o que mais gosta na casa, que mede cerca de 800 metros quadrados, são as vistas. “Compramos a propriedade pelas vistas e pelo sossego e tranquilidade”, diz ele, acrescentando que gosta especialmente de contemplar o pôr do sol de suas enormes janelas.
“É um andar, então não tem andar de cima. Tudo é bem plano. E é marrom. Se mistura com as terras. Você não vê isso”. A única parte da casa original que pôde ser salva foi o portão.
Agora felizmente estabelecido em Portugal, o casal passa grande parte do seu tempo livre cuidando de seus animais, incluindo galinhas e ovelhas, e trabalhando nos olivais.
“Nenhum de nós tinha a menor ideia sobre o aspecto agrícola”, acrescenta Andrew. “Tivemos a sorte de conhecer um fazendeiro português, que tem sido uma espécie de mentor para nos ensinar como fazê-lo”.
Eles também produzem seu próprio óleo orgânico, que ganhou prêmios em várias competições, incluindo o London International Olive Oil Competitions. Andrew e Proost dizem que tentam usar práticas orgânicas regenerativas na fazenda, que é certificada como orgânica.
“Tudo isso tivemos que aprender na hora”, diz Andrew. “Não tínhamos ideia. Tem sido uma grande aventura dessa forma. É aprender algo completamente novo. Não poderia ser mais diferente de Londres. É exatamente o oposto”.
Mudança de ritmo
Com a casa pronta e conhecendo a região, a dupla se sente em casa em Figueira e Barros, sendo recebida de braços abertos pelos moradores.
“Os portugueses são extremamente abertos”, diz Andrew. “Dois homens gays morando em uma fazenda na zona rural de Portugal – sem problemas. Eles parecem realmente querer que as pessoas venham para cá. Eles apreciam as pessoas que estão investindo no país e tentando cuidar dessas velhas fazendas que estão em ruínas”.
Atualmente, eles administram a Casa Baio como uma pousada, com quatro de seus quartos com banheiro disponíveis para reserva para estadias mínimas de duas noites. Os dois tornaram-se amigos de muitos locais – Andrew é membro do clube de corrida local – bem como de outros expatriados que se mudaram para Portugal.
“Assim que compramos o lugar, todos os vizinhos nos convidaram para jantar”, diz Proost. “As pessoas são simplesmente maravilhosas”.
No entanto, admitem que demorou algum tempo a adaptar-se à mudança de ritmo, explicando que as coisas parecem andar muito mais devagar na região do Alentejo.
“Todo mundo tem tempo aqui”, diz Andrew. “Se você está no supermercado e está na fila, é normal que o caixa tenha uma conversa de 10 minutos com a pessoa à sua frente – e ninguém se importa – você apenas espera na fila. É assim que as coisas são”.
A cidade mais próxima, Estremoz, fica a cerca de 30 minutos de carro.
Nos últimos anos, Portugal tornou-se um destino popular para cidadãos americanos em busca de uma nova vida. Segundo dados do governo, o número de americanos que passaram a viver em Portugal aumentou 45% em 2021 em relação ao ano anterior.
Andrew e Proost dizem que notaram definitivamente um aumento na quantidade de americanos que se mudaram para Portugal, principalmente no Alentejo.
“É uma região que não é tão conhecida, mas está se tornando [mais] agora”, diz Andrew. “Muitos americanos estão vindo para esta área da costa oeste da Califórnia, porque é um clima muito semelhante”.
Ele ressalta que houve muito pouco desenvolvimento na região durante anos, então “não há áreas excessivamente desenvolvidas”. “Foi provavelmente a região mais pobre de Portugal durante muito tempo e, por isso, não houve desenvolvimento”, acrescenta. “São apenas autênticas vilas portuguesas”.
Andrew explica que o sistema de “golden visa” de Portugal, um programa de residência de cinco anos por investimento destinado a cidadãos de fora da União Europeia, “atraiu muita gente”.
“Muitos deles vieram inicialmente para o Porto ou Lisboa, as grandes cidades”, explica. “Mas eles pararam o golden visa nesses lugares, porque estava ficando muito fora de controle. Então agora as pessoas estão vindo mais para o interior do país”.
Além do clima, ele acredita que a taxa de criminalidade relativamente baixa no país – o primeiro-ministro Antonio Costa descreveu Portugal como “um dos países mais seguros do mundo”, o custo de vida “acessível” e a simpatia das pessoas, são seus maiores pontos de venda.
“As pessoas realmente fazem o lugar”, diz Andrew. “É um lugar muito acolhedor. E acho que porque a população do país está diminuindo, eles são realmente pró-imigração”.
Grandes mudanças
“Há tantas coisas boas sobre Portugal. Eles [os portugueses] não propagandeiam isso. Eles são muito humildes”.
Embora o casal esperasse continuar morando em sua nova casa no futuro, eles receberam recentemente algumas notícias que os forçaram a repensar completamente os planos.
Andrew foi diagnosticado com displasia arritmogênica do ventrículo direito/cardiomiopatia (DAVD/C), uma doença cardíaca rara que pode aumentar o risco de parada cardíaca súbita ou morte.
Devido à natureza de sua condição, ele teve que limitar o nível de atividade física que pratica, o que o exclui de grande parte do trabalho manual necessário para manter a fazenda funcionando.
“Vamos colocar a casa à venda”, explica Andrew. “Porque é demais. Eu poderia contratar alguém para fazer o trabalho, mas não sou o tipo de pessoa que quer ficar sentada dizendo às pessoas o que fazer. Eu quero realmente fazer o trabalho. Nunca tive problemas de saúde. E então, de repente… está realmente mudando tudo”.
Apesar de estarem inegavelmente desapontados com a perspectiva de terem de vender e abandonar a vida que cultivaram em Portugal, ambos dizem que não se arrependem e estão ansiosos pela próxima aventura.
O casal constantemente recebe pedidos de conselhos de outros viajantes que desejam começar uma nova vida em Portugal ou em outro país. Eles dizem que sempre incentivam as pessoas a dar o salto.
“Vá em frente”, diz Andrew. “A vida é curta, não sabemos o que vai acontecer na próxima esquina. Mas também abra os olhos. E quando você for para um novo lugar, não espere que as coisas sejam como eram nos Estados Unidos ou de onde você vem”.
“Esteja aberto às diferenças. Tente encontrar maneiras de se adaptar e não esperar que as coisas se adaptem a você. Afinal, por que deveriam?”.
FONTE: CNN INTERNACIONAL