Lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em agosto, o programa de infraestrutura prevê aportes de R$ 1,7 trilhão até 2026 — usando recursos orçamentários, de estatais, financiamentos e parcerias.
De olho na atração de mais investimentos sauditas, o governo brasileiro está apresentando a carteira de projetos do Novo PAC ao reino árabe.
“Estamos tentando identificar setores que gerem interesse em eventuais parceiros”, disse à imprensa o embaixador do Brasil na Arábia Saudita, Sérgio Eugênio de Risios Bath.
Ele reconhece que as conversas ainda estão em “estágio exploratório”, mas ressalta a possibilidade de uma “mudança qualitativa” dos investimentos sauditas no Brasil.
Lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em agosto, o programa de infraestrutura prevê aportes de R$ 1,7 trilhão até 2026 — usando recursos orçamentários, de estatais, financiamentos e parcerias.
Estimativas apontavam um estoque de investimentos sauditas da ordem de US$ 1,6 bilhão até meados deste ano no Brasil.
Esse valor, no entanto, ainda não engloba duas operações importantes feitas nos últimos meses: a compra de uma participação da unidade de metais básicos (níquel e cobre) da Vale e a aquisição de 10% das ações da BRF.
Ambas as operações foram realizadas por braços ligados ao Fundo de Investimento Público (PIF), o fundo soberano da Arábia Saudita, que tem um portfólio de mais de US$ 700 bilhões.
Bath vê espaço para uma série de oportunidades no Brasil, como investimentos em infraestrutura, incluindo projetos que envolvam o escoamento de grãos para a segurança alimentar da Arábia Saudita.
Em 2019, após visita do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a Riad, autoridades do governo passado apontavam a Ferrogrão — entre Sinop (MT) e Itaituba (PA) — como um dos possíveis destinos de investimentos sauditas. Outra possibilidade são novos trechos da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol).
O embaixador brasileiro lembra, no entanto, uma característica do fundo. “O PIF não gosta muito, tradicionalmente, de se envolver na gestão e na operação dos ativos”, afirma.
O PIF já aportou, por exemplo, US$ 400 milhões em dois fundos administrados pelo Pátria Investimentos no Brasil. Em agosto, o Pátria arrematou a concessão de um lote de 473 quilômetros de rodovias no Paraná.
Bath acredita que algumas outras frentes podem ser exploradas. Uma delas seria a estruturação de projetos, para oferta aos sauditas, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Acho importante envolver o BNDES. O banco pode ser um agente importante nesse processo”, avalia o diplomata brasileiro.
Na semana passada, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, esteve em Riad e encontrou-se com o ministro de Energia da Arábia Saudita, príncipe Abdulaziz bin Salman Al Saud.
“Conversamos sobre a força do Brasil no setor de óleo e gás, perspectivas de parcerias bilaterais e os caminhos que ambos os nossos países estão percorrendo para promover a transição energética dentro das possibilidades de cada realidade”, disse Jean Paul, em mensagem nas suas redes sociais.
Investimentos brasileiros
Em sentido inverso, empresas brasileiras têm buscado a Arábia Saudita para instalar filiais e explorar o mercado local, às vezes servindo de plataforma também para atender outros países do Oriente Médio.
De acordo com o embaixador Sérgio Bath, a Eurofarma está abrindo um escritório na Arábia Saudita e avalia a produção de IFA (insumo farmacêutico ativo). O BTG Pactual também abiu escritório em Riad.
No segmento de proteína animal, a BRF já produz carne de frango halal seguindo preceitos islâmicos em Dammam. A Seara tem uma planta na mesma cidade e outra em construção em Jeddah.
Na área de defesa, a Taurus quer fabricar munições localmente e já tem um memorando de entendimentos assinado com a Scope Defense Trading para erguer uma unidade no país.
Bath lembra que a Arábia Saudita tem atualmente o quinto maior orçamento militar do mundo e planeja, até 2030, fazer 50% de suas compras no próprio país. “É um setor de enorme potencial”.
O embaixador enfatiza que, além de investimentos mútuos, o intercâmbio comercial tem muito para crescer. O comércio bilateral ficou em torno de US$ 9 bilhões no ano passado e a Arábia Saudita entrou na lista dos 15 maiores parceiros do Brasil.
Só que, segundo ele, 90% das transações ainda estão concentradas em quatro grupos: proteína animal, soja, milho e açúcar. O objetivo é ampliar essa pauta com produtos manufaturados e de maior valor agregado.
“Diversificar as exportações é uma prioridade da embaixada”, diz Bath. Ele aponta têxteis, calçados e cosméticos como setores com potencial bastante elevado.
Davos do Deserto
O embaixador afirma que a presença brasileira na Iniciativa de Investimento Futuro, cuja sétima edição ocorreu na semana passada, foi recorde. Desta vez, o FII (sigla do The Future Investment Initiative) reuniu cerca de 6 mil participantes de 90 países.
O evento, também conhecido como “Davos do Deserto” (em alusão ao encontro anual da elite econômica global nos Alpes suíços), surgiu em 2017 e é organizado pelo PIF.
Quase uma centena de executivos brasileiros esteve em Riad para o encontro da semana passada, segundo Bath. “Isso mostra o interesse, recíproco e renovado, nas relações Brasil-Arábia Saudita”, avalia.
Entre os representantes do setor privado estavam enviados do frigorífico Minerva, que hoje é controlada pela Salic (Empresa Saudita de Investimento Agrícola e Pecuário), outro braço do PIF.
Em 2015, em seu primeiro grande movimento no Brasil, a Salic já havia adquirido uma fatia de 20% da Minerva, um dos três grandes produtores de carne do país. Em 2020, ampliou sua participação e tornou-se sócia majoritária, com 30,55% da companhia.
Edição: PORTAL DEMOCRATA
Foto: Nevar/Reuters
Fonte: CNN