Internamente, Petrobrás e Vale recebem mais denúncias de assédio do que corrupção

Por: Sidney Araujo

Foto Destaque: Damir Kopezhanov via unsplash

Os canais de denúncias internos de muitas empresas têm recebido mais alegações sobre temas comportamentais, como assédio sexual, moral e discriminação do que notificações contra atos de corrupção. Esses dados são de empresas como Petrobras, Vale, Novonor e BRF. Especialistas afirmam que ter um canal de denúncias corporativo é fundamental para que os colaboradores tenham um meio confidencial e seguro para relatar problemas de má conduta.

Com a aprovação da Lei 12.846/2013, conhecida como Lei Anticorrupção, mais companhias passaram a contar com canais internos de denúncia. A legislação considera essa prática uma medida importante de compliance, ou seja, de conformidade, para que relatos de irregularidades possam ser feitos e usados como atenuantes em caso de sanções administrativas por corrupção.

Assuntos relacionados a problemas interpessoais configuraram 62% dos registros de reclamações no canal de denúncias da mineradora Vale em 2022. Já na Petrobras, as denúncias recebidas com mais frequência desde 2018 são ligadas à “violência no trabalho” e caracterizadas como toda prática, comportamento ou ameaça que provoque ou tenha potencial de provocar prejuízo econômico, sexual ou psicológico. Considerada uma das maiores companhias de alimentos em nível internacional, no caso da BRF, a maior parte das denúncias reportadas entre 2019 e o ano passado também está relacionada à temática comportamental.

Segundo uma pesquisa publicada pela Association of Certified Fraud Examiners, empresas que contam com canal de denúncias descobrem mais fraudes (46%) do que corporações que recebem queixas por canais aleatórios (30%). O levantamento mostra ainda que negócios que dispõem de canais de denúncia são capazes de identificar problemas mais rapidamente e que sofrem menos perdas financeiras do que empresas que não possuem.


(Divulgação/Freepik)

Evolução de debates sobre ética, integridade e respeito ajuda a explicar tendência

Uma das razões que ajudam a esclarecer o porquê dessa tendência, conforme avaliação do sócio da divisão de Risco da Deloitte, Eduardo Rocha, é a evolução de valores sociais em relação à integridade, ética e respeito. Para ele, as empresas que não cumprirem essas demandas correm o risco de ficar fora do mercado. As informações foram prestadas à imprensa.

Também em entrevista e seguindo uma linha parecida de raciocínio, o diretor de Auditoria e Conformidade da Vale, Denis Cuenca, reconhece um reflexo nos canais de denúncia provocado por um avanço nos debates sobre inclusão, equidade, diversidade e ESG – sigla para Environmental, Social, and Governance, um conjunto de critérios ambientais, sociais e de governança corporativa.

Comunicação e transparência são essenciais, mas há desafios

Apesar dos avanços sociais e tecnológicos, um estudo da plataforma SafeSpace em parceria com o Instituto Qualibest mostrou que 27% dos profissionais brasileiros não têm conhecimento sobre como denunciar um caso de má conduta no trabalho. Foram ouvidas 682 pessoas na pesquisa, sendo 50% homens e 50% mulheres. O levantamento revelou também que 20% dos trabalhadores entrevistados atuam em organizações que não oferecem canal de denúncias. Outros 19% não sabem se a empresa possui um canal de comunicação direcionado especificamente para que os colaboradores reportem problemas.

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