Brasília: Virada do Ano na Praça dos Orixás, Honrando a Consciência Negra e Celebrando as Religiões de Matriz Africana

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Por: Tatiane Braz e Ogâ Luiz alves

Fotos: Agência Brasil – Ogâ Luiz Alves/Projeto Oníbodê


Em Brasília, a chegada do ano novo na Praça dos Orixás celebra a força da cultura negra e não pode faltar as bençãos das Yabás, tradicional lavagem da praça dos Orixás

As Yabás fazendo o ritual de lavagem dos símbolos das divindades Africanas – Fotos: Ògan Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ

A celebração reúne seguidores das religiões de matriz africana – Fotos: Ògan Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ

Ao som dos tambores às margens do Lago Paranoá, os adeptos das religiões de matriz africana no Distrito Federal comemoram a virada do ano. A festa anual, realizada na Praça dos Orixás, ponto central dessas religiões e da comunidade de Brasília, atrai centenas de pessoas em um momento de reverência às divindades, com preces aos orixás, especialmente Iemanjá, cerimônias de cura, rituais de celebração e uma profusão de oferendas.

 

Além das tradições, a virada também oferece uma rica programação cultural, incluindo rodas de samba e apresentações de blocos afro. Este ano, as festividades começam às 18h com performances do Aruc Samba Show, Samba e Magia, Bom Partido, Carol Nogueira, Asé Dudu e o grupo Obará.

 

No entanto, a celebração vai além da virada do ano. No sábado (30), a Prainha, como é conhecida a praça, foi palco da amarração dos ojás, os turbantes tradicionais, um xirè em honra às yabás (orixás femininos) e uma cerimônia de plantio de baobá para marcar o solo sagrado.

 

A orla gradualmente se encheu de famílias, amigos e membros de terreiros, unidos na celebração que contou com apresentações do grupo cultural Obará, da cantora Renata Jambeiro, da banda 7 na Roda acompanhada por Kiki Oliveira e da artista Dhi Ribeiro.

 

“A Prainha é um símbolo, estamos aqui, trazendo alegria, beleza, conexão com a natureza, momentos agradáveis, espiritualidade. Estamos aqui para agradecer ao ano que passou, com suas alegrias e tristezas, e para receber o próximo ano.

 

Pedimos a nossos deuses, a Oxalá, aos nossos orixás e a todos que creem, seja quem for, que também peçam por um ano de paz, alegria, amor, sensibilidade, felicidade e muito amor no coração das pessoas, além de empatia”, afirmou à Agência Brasil Adna Santos, conhecida como a Yalorixá do Ilê Axé Oyá Bagan, mãe Baiana de Oyá, uma das organizadoras da festa.

 

Contudo, nem tudo são cerimônias e festividades, em anos anteriores, a celebração das religiões de matriz africana, como a Umbanda e o Candomblé, enfrentaram adversidades, e a Prainha chegou a ser vandalizada, um claro reflexo da intolerância religiosa e do racismo.

 

Em agosto de 2021, a estátua de Ogum foi encontrada destruída, sua imagem derrubada e transformada em cinzas, com a cabeça pendurada em uma das árvores próximas.

 

Em resposta, os líderes das comunidades tradicionais de matriz africana se reuniram no local, um dia após o ato de vandalismo, em um protesto contra o racismo. Eles também denunciaram o descaso com o espaço e outros ataques às imagens da Praça dos Orixás, desde sua inauguração em 2000.

 

“Nos anos anteriores, sempre fizemos essa celebração na Prainha, enfrentando dificuldades, mas com a resistência que é fundamental para esta cidade. Formamos um grupo religioso que preserva, conserva e respeita, e ao longo desses anos temos trabalhado com excelência na Praça dos Orixás”, explicou.

 

Neste ano, o governo do Distrito Federal instalou câmeras de vigilância na Praça dos Orixás para monitoramento em tempo real. Essa medida visa garantir a segurança durante as festividades de ano novo, com a possibilidade de manter os equipamentos no local após o término da festa.

 

Para Mãe Baiana, que vive no Distrito Federal desde os anos 80, o próximo ano será de riqueza e prosperidade, trazido por Obará. Ela também destaca que será um período de desafios, como a preservação ambiental e o combate à fome.

 

A yalorixá enfatiza que a festa é aberta a todas as pessoas, independentemente de credo, e que a Prainha é um lugar excelente para apreciar a queima de fogos de artifício silenciosos do Distrito Federal, que durarão cerca de 21 minutos. Tudo isso com muita energia positiva!

 

“Convidamos nossa comunidade, nosso povo, para se juntar a nós nesta festa. É isso, muita energia positiva para todos, desejamos um feliz ano novo, que venha 2024, um ano que em nossa tradição é representado pelo número seis, a soma de dois e quatro. O número seis simboliza riqueza para nós, que este ano nos traga o dobro do que perdemos no passado”, expressou Mãe Baiana.

 

“Desejamos que a fome seja erradicada no mundo, no Brasil, no Distrito Federal; que as pessoas se lembrem umas das outras, que se estendam a mão umas às outras. Precisaremos uns dos outros no próximo ano, pois enfrentamos diversos problemas, principalmente ambientais”, concluiu.”

 

Além disso, neste ano, a Federação de Umbanda e Candomblé do Estado de Goiás em união com a Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e entorno, desempenharam um papel crucial, promovendo a inclusão e o entendimento inter-religioso.

 

Suas iniciativas contribuíram para fortalecer os laços de respeito e cooperação entre diferentes tradições espirituais, enriquecendo ainda mais o significado desta celebração única.

 

FESTA DE IYEMONJÁ

 

Na Prainha em Brasilia, todos os Orixás com exceção dos que foram mais depredados com perda total, foram enfeitados. Oxála foi totalmente queimado e Ògun foi incendiado e teve a sua cabeça decepada. A Polícia Civil do DF na ocasião levou a cabeça para a perícia, mas até hoje não a recebemos de volta nem mesmo tivemos o resultado da perícia. crianças plantaram um pé nossa árvore Sagrada Irôko como forma de simbolizar a resistência.


Sec. de Cultura Claudio Abrantes e a Yálorixá Mãe Baiana – Fotos: Ògan Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ

Durante sua fala a comunidade presente e também na presença do Sec de Cultura Claudio Abrantes, Mãe Baiana agradeceu ao mesmo o apoio a realização do evento e cobrou um posicionamento da Polícia Civil quanto ao destino da cabeça de Ogun, pedindo sua imediata devolução.

 

O Secretário de Cultura do DF assumiu publicamente diversos compromissos com nossa comunidade afro religiosa de Brasília, um deles foi a efetivação da Comissão de Matrizes Africana que foi formada para a realização da festa enquanto uma pasta em sua secretaria para discutir os temas relacionados a nossa comunidade, bem como participação na organização de futuros eventos culturais.

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