Por: Sidney Araujo
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De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), mais de 230 mil pessoas morreram por doenças cardiovasculares no Brasil no ano de 2021, sendo um aumento de 6,8% em relação ao ano anterior. Ainda segundo com o órgão, estima-se que até 2040 o aumento seja de até 250% dos casos.
A parada cardiorrespiratória é uma situação médica de emergência em que o coração para de bater e a respiração cessa. Isso leva à interrupção do fluxo sanguíneo, privando o corpo de oxigênio e nutrientes essenciais. Sem intervenção imediata, a PCR pode ser fatal em questão de minutos.
Entre os diversos fatores que podem levar à parada, estão as condições fisiológicas, como a arritmia cardíaca e o ataque cardíaco, causadas por doenças cardiovasculares. E esses problemas podem ser causados por uma combinação de fatores, como ambientais, má alimentação, falta da prática de exercícios físicos, tabagismo e também por influências genéticas. Essa última, por exemplo, podem ser passadas de pais para filhos.
De acordo com Wiliam Régis, pesquisador, nutricionista e doutor em Biologia Funcional e Molecular, que foi ouvido pelo site FALA CANEDO, explica que a genética pode desempenhar um papel fundamental na prevenção de doenças cardiovasculares, evitando diretamente os desfechos fisiológicos que causam a PCR.
“A avaliação do DNA permite identificar a predisposição a doenças coronárias, hipercolesterolemia, aterosclerose, risco de infarto, trombose, entre outros. Os testes nutrigenéticos e de esporte, por exemplo, avaliam a predisposição genética de um paciente a determinadas alterações metabólicas e ou condições físicas. A genética não é o nosso destino, mas conhecê-la pode nos ajudar a ter um destino melhor”, disse ele.
Segundo explica Wiliam, a parada cardiorrespiratória (PCR) é uma interrupção abrupta do músculo cardíaco que interrompe o bombeamento do sangue impedindo a continuidade da função respiratória. Dentro disso, vários fatores podem ocasionar uma parada como asfixia, afogamento, lesões traumáticas graves ou doenças próprias do coração e outras condições de saúde da pessoa.
“As doenças cardiovasculares, principalmente, tendem a comprometer a fisiologia do coração, fazendo com que ele passe a funcionar de uma forma não regular e que pode acabar acarretando uma parada”, diz o especialista.
Para o especialista, a genética podem afetar e influenciar a suscetibilidade a doenças cardiovasculares. “Fatores genéticos podem afetar a estrutura e a função do coração, os níveis de lipídios no sangue, a pressão arterial e outros fatores relacionados ao sistema cardiovascular. Quando o indivíduo possui predisposições genéticas essas doenças como estenose, aterosclerose e até mesmo o infarto podem ocorrer”, explica.
Para ele, isso acontece devido a variabilidade genética que torna cada indivíduo único inserindo na natureza pessoas diferentes que podem metabolizar elementos dietéticos de formas distintas. “Um paciente pode ter maior sensibilidade ao sódio, por exemplo, e ter maior risco de hipertensão. Ou ainda pode ser um metabolizador lento de cafeína e ter maior risco de infarto”, reforça.
Outras perguntas e respostas da entrevista:
– O aumento de mortes por doenças cardiovasculares é uma consequência apenas da Covid-19?
O aumento de mortes por doenças cardiovasculares não é exclusivamente atribuível à Covid-19. Embora a pandemia tenha impactado indiretamente a saúde cardiovascular, devido a mudanças nos
cuidados médicos e no estilo de vida, as doenças cardiovasculares continuam sendo uma causa significativa de morbidade e mortalidade independentemente da pandemia. Mesmo antes da mesma o número de casos já era grande. Durante a covid o que podemos observar mais ainda é que algumas pessoas possuíam uma predisposição genética a covid grave. Isso traz uma discussão interessante acerca da genética e obviamente quem já tem uma predisposição pode ter claramente um maior risco de complicações.
– Como a genética pode evitar as causas da PCR?
A compreensão dos fatores genéticos pode ajudar na identificação de indivíduos em risco. Isso pode permitir intervenções precoces, como modificações no estilo de vida e tratamento médico preventivo, reduzindo assim o risco de eventos cardíacos. Citando novamente o exemplo da cafeína, indivíduos que a metabolizam mal podem ter um risco aumentado de infarto ao consumir mais de 200 mg por dia.
– Quais exames genéticos estão disponíveis no Brasil para identificar predisposições a doenças cardiovasculares?
No Brasil, diversos exames genéticos estão disponíveis para avaliação de predisposições a doenças cardiovasculares. Exames de sequenciamento genético podem analisar genes associados a condições como hipercolesterolemia familiar e síndromes cardíacas hereditárias assim como outros. É importante discutir com um profissional de saúde para determinar a necessidade e a adequabilidade desses exames em situações específicas. Nunca recomendamos a realização de testes sem a solicitação de um profissional.
– Como as informações genéticas são úteis para intervenções personalizadas?
As informações genéticas podem orientar intervenções personalizadas, permitindo a adaptação de estratégias de prevenção e tratamento, como dieta e exercícios. Isso pode incluir ainda ajustes em medicamentos, orientações de estilo de vida e monitoramento mais frequente para aqueles com maior predisposição genética a alterações. Como a genética não é um destino, conhecer suas características permite nos anteciparmos ao problema e evitá-lo.
– Além das doenças cardiovasculares, problemas respiratórios também podem ser identificados precocemente por meio da genômica?
Sim, a genômica também pode desempenhar um papel na identificação de predisposições a problemas respiratórios. Estudos genéticos podem revelar informações sobre a susceptibilidade a condições como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e fibrose pulmonar, permitindo intervenções precoces e personalizadas para reduzir o risco e melhorar o manejo dessas condições.