Por: Sidney Araujo
Foto Destaque: Getty Images
No dia 24 de fevereiro de 2022 o presidente russo Vladimir Putin autorizava o início da “operação militar especial” que tinha como objetivo invadir a Ucrânia. Sob o pretexto de uma “proteção à população das regiões separatistas” de Lugan e Donetsk, “desmilitarizar” e “desnazificar” o território ucraniano, as primeiras tropas russas entravam em território ucraniano.
Desde então, há 2 anos a Ucrânia vive uma zona de combate que já dizimou dezenas de pessoas. De acordo com o último relatório da Missão de Monitorização dos Direitos Humanos da ONU na Ucrânia, que foi divulgado na última quarta-feira (21), mais de 30 mil civis já perderam a vida. Porém, as Nações Unidas estima que os números devem ser bem maiores.
Para além das perdas de vidas diretas em uma zona de guerra, o mundo todo foi influenciado negativamente, desde o câmbio, commodities agrícolas, petróleo, inflação e outros efeitos. Para tentar entender o panorama atual e as perspectivas e impactos no Brasil e no mundo, o site FALA CANEDO ouviu o economista da WIT Invest, Marcello Corsi Janota de Carvalho.
Para ele, o maior impacto acontece devido ao fato da guerra ter se prolongado além do esperado. Contudo, nesses dois anos, ele acredita que todas as perdas já foram incorporadas nos riscos das economias de todo o planeta.
“Como a economia russa é uma grande produtora de petróleo, gás natural e fertilizantes, e a economia ucraniana é responsável por boa parte dos grãos do mundo, o principal impacto foi no setor agrícola, por termos um aumento do custo dos insumos, fertilizantes e combustíveis, acompanhado de uma redução na oferta de grãos”, explica.
Além disso, Marcello Corsi completa que isso gerou oportunidades e problemas: “Aqueles que tinham estoques e capacidade de aumento de produção conseguiram aproveitar o aumento no preço dos grãos. Por outro lado, aqueles que precisavam se capitalizar para fazer tal aumento de produção tiveram que o fazer em um momento de taxas de juros mais elevadas do que havíamos vivido há alguns anos”.
Oportunidades e setores mais prejudicados
Após dois anos desde seu início, o conflito deixou profundas marcas não apenas no meio social, mas também na esfera econômica. A estrutura do comércio internacional, que ainda se reerguia dos impactos da pandemia de Covid-19, sofreu outro abalo com o início do conflito, complicando ainda mais o cenário econômico.
Em relação ao investidor, Marcello acredita que o principal ponto é estar atento aos ativos que mais valorizaram nos últimos dois anos. “Diversos ativos valorizaram nesse cenário por conta da guerra, mas em caso de mudança, não necessariamente a alocação atual continuará a performar bem. O investidor deve ficar atento e não ter receio de realizar ganhos e mudar de estratégia”, conta ele.
Dentre os setores mais prejudicados, Marcello acredita que as empresas aéreas foram as que mais sentiram. Por conta do conflito ter se prolongado, elas acabaram sendo impactadas por conta dos insumos do ramo, como o combustível. Aliado a uma pandemia, essas companhias tiveram que repensar o trabalho para sobreviver.
Os impactos para a economia do Brasil
Em relação as perspectivas e impactos no Brasil no câmbio, commodities agrícolas, petróleo e inflação, o especialista crê em um ano melhor do que foi 2023 devido à elevada produção agrícola brasileira e a economia estar mais forte do que era esperado no ano passado. Além disso, ele crê em um câmbio que não perderá muito poder de compra
Mesmo assim, ele não acredita que se apreciará a ponto de ser aproveitado pela maior parte da população. As commodities agrícolas devem ainda se manter em queda devido às produções ainda elevadas este ano. O que será bom para nossa balança comercial. Em relação ao petróleo, o produto deve manter um patamar de preços elevados devido aos conflitos.
“Caso mais países do Oriente Médio entrem no conflito, a situação só piorará. A inflação brasileira ainda está bem abaixo do que era esperado para um governo com maiores gastos, porém, devemos lembrar que esses impactos vêm com o tempo e não são sentidos de imediato. Caso a situação fiscal não melhore, a inflação não ficará nos níveis atuais e voltará a ser um problema”, reflete.
Por outro lado, há pontos em que o Brasil tirou benefícios, com os mercados de grãos, como trigo e milho. Para além deste setor, Marcello Corsi acredita o conflito ativou o crescimento de algumas áreas, como o setor petroquímico e imobiliário.
“Foi um setor bastante impulsionado (petroquímico) junto com o segmento de grãos. O que, dada a composição da nossa bolsa de valores, auxiliou para que o índice tenha uma boa performance nos últimos tempos. Além disso, com a queda da taxa de juros, estamos vendo um crescimento no segmento imobiliário que ainda não parece ter chegado em seu auge”, finalizou.