Aumento de demissões voluntárias no Brasil alcança níveis recordes

Crescimento econômico, impacto da pandemia e busca por equilíbrio entre vida pessoal e profissional impulsionam aumento nas saídas do mercado de trabalho

Por: Redação/FC

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil


O número de brasileiros que optam por deixar seus empregos tem crescido de forma acelerada desde a pandemia de covid-19. Em abril de 2024, aproximadamente 734,9 mil pessoas pediram demissão, o maior número registrado desde janeiro de 2004, conforme levantamento da LCA Consultores com base nos dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Em 2023, o total de demissões voluntárias chegou a 7,3 milhões, o dobro do registrado em 2019.

Motivações por Trás das Demissões

Especialistas apontam várias razões para esse aumento. Paulo Feldmann, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), associa o fenômeno ao desempenho positivo da economia. Em 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 2,9% em relação a 2022, o que criou um ambiente de confiança entre os trabalhadores. “A economia depende da expectativa das pessoas em relação ao futuro. Quando a economia vai bem, as pessoas se sentem mais encorajadas a pedir demissão de empregos insatisfatórios”, explica Feldmann. Durante a recessão de 2015 e 2016, com o PIB caindo mais de 3% ao ano, os pedidos de demissão diminuíram significativamente devido ao receio de não encontrar novos empregos.

Impacto da Pandemia e Mudanças no Comportamento Trabalhista

Tatiana Iwai, professora do Insper e especialista em comportamento organizacional, destaca que a pandemia de covid-19 também teve um papel crucial no aumento das demissões. O “great resignation”, ou grande renúncia, foi impulsionado por trabalhadores que, após experimentar o trabalho remoto, não quiseram retornar ao regime presencial. A busca por equilíbrio entre vida pessoal e profissional e a flexibilidade no trabalho se tornaram prioridades. “Muitos trabalhadores perceberam que poderiam ser produtivos trabalhando remotamente e, ao serem forçados a voltar ao escritório, optaram por sair em busca de oportunidades mais flexíveis”, comenta Iwai.

Casos de Insatisfação no Ambiente de Trabalho

Histórias pessoais, como as de Vitória Lopes e Laiz Meireles, ilustram as motivações por trás dessas demissões. Vitória, de 28 anos, deixou seu cargo de analista de projetos devido ao baixo salário, excesso de trabalho e estresse. “Chegou a um ponto em que nem um aumento de salário me faria ficar”, relata. Laiz, de 34 anos, que trabalhava como assistente social em uma escola, pediu demissão devido ao volume de trabalho e à falta de reconhecimento, priorizando sua saúde mental. “Vi que meu esforço não seria valorizado e minha saúde mental estava sendo prejudicada”, afirma.

A Necessidade de Mudança no Ambiente Corporativo

Esses movimentos indicam problemas no ambiente de trabalho que precisam ser abordados pelos empregadores. Segundo Iwai, é fundamental que as empresas compreendam as necessidades e expectativas de seus funcionários para evitar a perda contínua de talentos. “Os empregadores devem prestar atenção aos sinais de insatisfação e trabalhar para criar ambientes que promovam o bem-estar e a satisfação dos empregados”, conclui.

O aumento das demissões voluntárias no Brasil revela um cenário onde, apesar do crescimento econômico, muitos trabalhadores ainda enfrentam insatisfação no ambiente de trabalho. A necessidade de mudanças nas práticas organizacionais é evidente para garantir a retenção de talentos e a saúde mental dos trabalhadores.

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