Investimentos em atividades que impactam a natureza e empobrecem o solo chegam a US$7 trilhões

Segundo a ONU, volume representa 7% do PIB mundial e é mais de 30 vezes superior aos investimentos em soluções baseadas na natureza

Por: Redação

Foto Destaque: Reprodução

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) revela que US$7 trilhões são investidos anualmente em atividades que trazem impacto negativo à natureza, como o contínuo subsídio aos combustíveis fósseis e práticas agrícolas insustentáveis que podem levar ao empobrecimento do solo.

De acordo com a agência da ONU para o Meio Ambiente no relatório ‘Estado das Finanças para a Natureza’ (2023), esse montante representa 7% do PIB mundial que engloba subsídios governamentais e investimentos privados em atividades agressivas à natureza. Em contrapartida, o financiamento do setor público e privado para soluções baseadas na natureza é de US$200 bilhões por ano.

“Os investimentos anuais negativos para a natureza são mais de 30 vezes superiores  aos para soluções baseadas na natureza, que colaboram para a manutenção do funcionamento dos ecossistemas e estabilidade climática. Para termos alguma chance de atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), esses números devem ser revertidos”, alerta Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA.

A meta da ONU é reverter a degradação de 40% dos solos mundiais até 2030. Para cumprir esta e outras metas, incluindo equilíbrio do clima, conservação da biodiversidade e restauração de ecossistemas, o investimento em soluções baseadas na natureza precisa ser triplicado até 2030 e quadruplicar até 2050, conforme relatório da PNUMA.

Recuperação urgente

Para o coordenador pedagógico do Movimento Circular, Edson Grandisoli, a recuperação dos solos é uma demanda urgente. “Pensar em soluções que simplesmente reduzam os impactos negativos não é mais aceitável. É preciso criar caminhos e tecnologias que garantam a regeneração daquilo que já foi perdido, seguindo um dos preceitos mais importantes da Economia Circular”, reforça.

A aplicação de práticas ligadas a uma economia circular é uma forma eficiente e sustentável de mudar os ciclos de produção, consumo e descarte agressivos à natureza. “Um dos principais visões da Economia Circular é garantir que diferentes processos realizados no ciclo técnico não prejudiquem os que acontecem no ciclo biológico.

Dentro desse cenário ousado, mas necessário, os processos de restauração com base na circularidade podem acelerar a recuperação de diferentes ambientes e seus respectivos serviços ecossistêmicos, fundamentais para todas as formas de vida e processos humanos.”

A Economia Circular é um modelo de desenvolvimento econômico associado a um melhor uso de recursos naturais por meio da redução de desperdício, prolongamento da vida útil dos produtos e regeneração dos sistemas naturais.

Soluções agroflorestais

Entre as soluções para recuperação da qualidade da terra, Edson cita que a produção agroflorestal (uso e ocupação combinada do solo entre árvores nativas e culturas agrícolas ou forrageiras) é uma forma circular de produzir, reforça Edson. “Ela dialoga diretamente com a Economia Circular, garantindo a manutenção dos ciclos naturais, além de ser uma prática bem acessível a diferentes produtores de diferentes escalas.”

Outras soluções mencionadas pelo especialista incluem a adubação verde e compostagem comunitária, que envolvem uso de material orgânico para recuperar a fertilidade do solo; a rotação de culturas e a biorremediação – uso de microrganismos ou plantas para limpar ou descontaminar áreas ambientais afetadas por poluentes. “Todas essas atividades podem impulsionar a economia local e criar empregos”, reforça.

Fato é que o modelo de economia linear, onde se produz a partir da extração crescente e alto desperdício de recursos, empobrece o solo e é um fator direto de alterações climáticas. Edson vê uma mudança de mentalidade rumo à circularidade. “O conhecimento, interesse e o número de ações ligadas à construção de sociedades mais circulares têm aumentado por parte de diferentes sujeitos sociais. Questões sociais e ambientais dialogam com a circularidade, que oferece caminhos para um desenvolvimento mais sustentável.”

O especialista se mostra otimista com o futuro. “Temos que celebrar. Apesar dos desafios, mais e mais pessoas estão se informando e conhecendo as questões relativas à dimensão socioambiental. Como fruto desse aumento de consciência, as ações se multiplicam em diferentes esferas. As mudanças são lentas, mas devem ser permanentes. Importante não desanimar e manter a coerência entre pensamento e ação.”

Sobre Edson Grandisoli

Embaixador e coordenador pedagógico do Movimento Circular, Mestre em Ecologia, Doutor em Educação e Sustentabilidade pela Universidade de São Paulo (USP), Pós-Doutor pelo Programa Cidades Globais (IEA-USP) e especialista em Economia Circular pela UNSCC da ONU. É também co-idealizador do Movimento Escolas pelo Clima, pesquisador na área de Educação e editor adjunto da Revista Ambiente & Sociedade.

Sobre o Movimento Circular

Criado em 2020, o Movimento Circular é um ecossistema colaborativo que se empenha em incentivar a transição da economia linear para a circular. A ideia de que todo recurso pode ser reaproveitado e transformado é o mote da Economia Circular, conceito-base do movimento.

O Movimento Circular é uma iniciativa aberta que promove espaços colaborativos com o objetivo de informar as pessoas e instituições de que um futuro sem lixo é possível a partir da educação e cultura, da adoção de novos comportamentos, da inclusão e do desenvolvimento de novos processos, produtos e atitudes.

O trabalho conta com a parceria pioneira da Dow, empresa de produtos químicos, plásticos e agropecuários, com sede em Michigan, Estados Unidos. O Movimento Circular contabiliza hoje 5 milhões de pessoas impactadas por suas ativações e conteúdos.

Site: https://movimentocircular.io/

Instagram: @_movimentocircular

LinkedIn: company/movimento-circular/

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