Mercado reage com pessimismo a medidas anunciadas pelo governo, considerando-as insuficientes para conter o crescimento da dívida pública.
O dólar comercial atingiu um novo recorde nesta quinta-feira (28/11), fechando cotado a R$ 5,989 para venda, maior valor desde o início do Plano Real. A alta reflete a insatisfação do mercado com o pacote fiscal apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que prevê cortes de R$ 70 bilhões até 2026 e R$ 327 bilhões até 2030, mas também inclui medidas que ampliam despesas, como a elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil a partir de 2026.
A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) também sentiu os efeitos do anúncio. O Índice Bovespa (Ibovespa) fechou em queda de 2,4%, aos 124.610 pontos, após operar no vermelho ao longo do dia. A baixa ocorre em meio à frustração com a falta de clareza sobre como o governo pretende equilibrar as contas públicas.
Medidas frustram expectativas
O mercado interpretou as medidas como insuficientes para conter o crescimento acelerado da dívida pública. A proposta ainda não foi enviada ao Congresso no formato de Proposta de Emenda à Constituição (PEC), o que adiciona incertezas. “O pacote é decepcionante e pouco efetivo. Além de incluir cortes modestos, ele adiciona medidas que reduzem receitas, como a mudança no IR. Isso reforça a percepção de um governo sem foco em um ajuste fiscal sólido”, avaliou Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman Sachs para a América Latina.
Especialistas calculam que o impacto real das medidas pode ser menor do que o prometido. Segundo o economista Felipe Salto, da Warren Investimentos, os cortes devem atingir apenas R$ 45,1 bilhões até 2026, pouco mais da metade do estimado inicialmente.
Cenário de incerteza
A escalada do dólar, que chegou a ultrapassar R$ 6 durante o dia, e a queda na Bolsa ilustram o mau humor do mercado. No acumulado do ano, a moeda norte-americana já subiu mais de 23%, pressionada pela desconfiança em relação à gestão fiscal do governo e ao cenário global.
A ampliação da faixa de isenção do IR, com impacto fiscal estimado entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões, foi especialmente criticada. Apesar de ser vista como uma medida popular, ela aumenta o desafio de compensar perdas com tributos adicionais sobre os mais ricos, algo que o mercado avalia como de difícil execução.
O consenso entre analistas é que, sem um plano mais robusto, o governo continuará dependendo da emissão de títulos públicos para financiar seus déficits. Essa dinâmica eleva os riscos fiscais e compromete a estabilidade econômica no médio prazo.
Com o pacote ainda em fase inicial de tramitação, o governo enfrenta o desafio de convencer o mercado de sua capacidade de implementar reformas efetivas que equilibrem as contas públicas e contenham a deterioração fiscal.
Por: Redação via Correio Braziliense
Foto: Divulgação/AFP