Remake da clássica novela estreia na Globo trazendo à tona dilemas morais que seguem atuais, 37 anos após a primeira exibição.
Ainda que o remake de Vale Tudo, exibido pela Globo na última semana, fosse assistido por poucas pessoas, já teria valido o esforço. Felizmente, o alcance será bem maior. A história, originalmente levada ao ar em 1988, retorna agora com força renovada e uma pergunta que continua incomodando: vale a pena ser honesto no Brasil?
Já no primeiro capítulo, essa questão é lançada sem rodeios. Em uma cena marcante, Maria de Fátima (Bella Campos), ambiciosa e sem escrúpulos, tenta convencer seu avô Salvador (Antonio Pitanga), um servidor da Alfândega conhecido por sua integridade, a liberar equipamentos fotográficos trazidos do Paraguai. A resposta dele é categórica: “Caráter é aquilo que você faz e ninguém está vendo.”
A força da cena não está apenas no conflito entre dois personagens, mas no espelho que ela nos oferece como sociedade. A cultura do “jeitinho”, da vantagem a qualquer custo e da desvalorização da honestidade continua impregnada no cotidiano brasileiro.
Mesmo com todo o exagero típico dos folhetins, a novela vem como um sacolejo moral — e não apenas para os desonestos. Em meio a um país onde a justiça nem sempre chega e o trabalho honesto parece render pouco, até os mais corretos podem se perguntar se estão no caminho certo.
Vale Tudo volta em boa hora. Não apenas como entretenimento, mas como provocação. Um lembrete de que ser íntegro, mesmo quando ninguém está olhando, ainda pode — e deve — ser um ato de resistência.
Por: Lucas Reis
Foto: Rede Globo/Divulgação