Acusados criavam boatos falsos nas redes sociais e exigiam dinheiro para tirar publicações do ar
A Polícia Civil de São Paulo prendeu um casal acusado de operar um esquema de chantagem virtual em Fernandópolis, cidade de aproximadamente 72 mil habitantes. Segundo as investigações, os suspeitos divulgavam calúnias em perfis falsos nas redes sociais para forçar o pagamento de vítimas interessadas em preservar sua reputação.
Os detidos foram identificados como Nadine de Fátima Siqueira Polizeli e João Tadeu da Silva Alves. Eles utilizavam as redes para espalhar informações mentirosas, principalmente envolvendo supostas traições ou relacionamentos fabricados, mirando empresários e pessoas conhecidas da cidade.
Depois da primeira publicação difamatória, os criminosos entravam em contato com as vítimas para exigir quantias em dinheiro sob a promessa de apagar os posts ofensivos.
“Eles usavam VPN [Rede Privada Virtual] para dificultar o rastreio, criavam contas fora do Brasil… Argumentavam que nunca seriam descobertos. No dia em que foram presos e interrogados, eles negaram por praticamente três horas, porque tinham certeza da impunidade”, explicou Everson Contelli, delegado seccional de Fernandópolis.
A prisão ocorreu na quarta fase da Operação Cyberconnect, deflagrada no último dia 24 de abril. Os bens dos acusados foram confiscados para compensar financeiramente os prejudicados, e os perfis utilizados para os crimes, removidos das redes.
Entre os perfis usados para espalhar boatos e humilhar moradores locais estavam páginas como Bocas de Glamour, AcidQueen, AcidGossip e Abacashi.
Contelli ressaltou que o caso faz parte de um fenômeno mais amplo, de uso comercial da desinformação na internet, já observado nas eleições de 2018:
“Isso não tem limite. Dentro desta suposta utilização do direito de expressão, eles praticam uma atividade criminosa. Essas fake news acabam gerando prejuízo para toda a sociedade. No caso específico aqui, ocasionou a destruição de várias famílias”, declarou.
Uma das vítimas fez 24 transferências via PIX, totalizando quase R$ 10 mil, para impedir que um relacionamento extraconjugal — que nunca aconteceu — fosse tornado público.
Além das ameaças diretas, familiares e advogados das vítimas também foram alvos de difamações. Uma advogada foi citada em postagens falsas que alegavam que ela, seu companheiro e sua cliente moravam juntos, praticando “colação de velcro”. A profissional relatou que passou a sofrer olhares desconfiados na cidade após as publicações.
Os acusados chegaram ainda a criar um plano de assinatura de notícias falsas, chamado Close Friends, vendendo acesso a boatos inéditos por R$ 10 semanais, com direito a “conteúdo antecipado”.
A operação cumpriu 181 mandados de busca e apreensão e 75 ordens de prisão em diversas cidades de São Paulo, com apoio das divisões Deinter São José do Rio Preto, Decap e Demacro, no combate ao crime digital.
A defesa dos acusados não foi localizada até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para manifestação.
Por: Lucas Reis
Foto: Divulgação Polícia Civil