Cotado para Secretaria-Geral, Guilherme Boulos simboliza avanço da esquerda no governo e alimenta queixas de partidos do centrão por perda de espaço
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve anunciar, nos próximos dias, mais uma etapa da reforma ministerial, com sinalizações que consolidam a aproximação com a esquerda e acentuam o distanciamento do centrão. A possível nomeação do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) para a Secretaria-Geral da Presidência, no lugar de Márcio Macêdo (PT), tem sido interpretada como um gesto de desprestígio aos partidos de centro-direita que compõem a base do governo.
A mudança busca reforçar a interlocução com movimentos sociais, em uma estratégia de longo prazo que visa consolidar apoio popular antes da eleição presidencial de 2026. No entanto, líderes do centrão demonstram desconforto com a nova configuração, alegando “sentimento de abandono”, já que as recentes alterações no primeiro escalão do governo beneficiam majoritariamente nomes ligados ao campo progressista.
Uma das substituições mais recentes foi no Ministério das Mulheres: Cida Gonçalves deixou o cargo após denúncias de assédio moral e condutas inadequadas no exercício da função. Em seu lugar, Lula escolheu Márcia Lopes, assistente social de Londrina (PR) e irmã do ex-ministro Gilberto Carvalho. Filada ao PT desde os anos 1980, Márcia simboliza a retomada de figuras ligadas às origens do partido.
A ala petista também foi fortalecida com outras mudanças. Paulo Pimenta deu lugar a Sidônio Palmeira na Secretaria de Comunicação Social; Nísia Trindade foi substituída por Alexandre Padilha no Ministério da Saúde, e a deputada federal Gleisi Hoffmann, então presidente do PT, assumiu a Secretaria de Relações Institucionais.
No entanto, nem todas as trocas seguiram essa lógica. No Ministério das Comunicações, ocupado anteriormente por Juscelino Filho (União Brasil), envolvido em denúncias da Procuradoria-Geral da República, a escolha do substituto buscou preservar o espaço do centrão: Frederico de Siqueira Filho, aliado do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), assumiu o posto. Pedro Lucas (MA), líder do União Brasil na Câmara, recusou a indicação.
Já o Ministério da Previdência passou por turbulências com a saída de Carlos Lupi (PDT), após escândalos envolvendo fraudes no INSS. Wolney Queiroz, também do PDT, foi nomeado, preservando a sigla no comando da pasta. Mesmo assim, deputados federais do partido anunciaram independência e se afastaram da base aliada na Câmara.
No total, o PT mantém atualmente 11 ministérios. Entre os partidos que ainda possuem pastas no governo estão União Brasil, Republicanos, PP, PSD, MDB, PSB, PDT, Rede, PCdoB e PSOL. Ainda assim, a recente reconfiguração alimenta tensões internas e levanta dúvidas sobre a estabilidade da aliança com o centrão até 2026.
Por: Genivaldo Coimbra
Foto: José Cruz/ Agência Brasil