Ausência de Xi Jinping e Putin compromete simbolismo do evento no Rio e aumenta pressão sobre presidente em meio à queda de popularidade
A cúpula do Brics que ocorre neste domingo (6) e segunda-feira (7), no Rio de Janeiro, enfrenta um esvaziamento inédito com a ausência de dois dos principais líderes do bloco: Xi Jinping, da China, e Vladimir Putin, da Rússia. A decisão de ambos de não participarem do encontro enfraquece o peso político da reunião e compromete a estratégia diplomática do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que contava com o evento como vitrine internacional de sua liderança.
De acordo com o governo chinês, a ausência de Xi se deve a conflitos de agenda. Ele será representado pelo primeiro-ministro Li Qiang. Já o Kremlin informou que Putin não virá por conta do mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), ao qual o Brasil é signatário, o que exigiria sua detenção ao pisar em solo brasileiro. A decisão preserva o país de um constrangimento diplomático.
Especialistas apontam que o esvaziamento fragiliza a imagem de protagonismo internacional que o governo brasileiro tenta construir. Segundo João Alfredo Nyegray, professor de Geopolítica da PUC-PR, a ausência dos líderes “desidrata o simbolismo da presidência brasileira do bloco” e expõe Lula a críticas tanto externas quanto internas, em um momento de desgaste crescente.
Leonardo Paz Neves, do Ibmec-RJ, avalia que o impacto vai além de Lula. “Enfraquece o Brasil como articulador regional e internacional. A presença de Xi e Putin daria maior visibilidade e legitimidade à reunião”, explica. Para ele, o gesto indica que, mesmo com a expansão recente do Brics, a coesão do grupo segue fragilizada.
O cenário ainda é agravado pela queda de popularidade do presidente. Dados da pesquisa Genial/Quaest mostram que a desaprovação do governo subiu de 56% em março para 57% em maio. Internamente, Lula também sofreu revés no Congresso, que derrubou o decreto sobre o aumento do IOF. O impasse foi parar no STF, onde o ministro Alexandre de Moraes suspendeu a norma e marcou audiência de conciliação.
Na tentativa de manter o valor simbólico do encontro, o governo brasileiro aposta agora na declaração final da cúpula, que deve reforçar o multilateralismo, a reforma de instituições globais e o apoio à COP30. Ainda assim, sem as figuras centrais do bloco, o evento tende a perder força estratégica e repercussão internacional.
Por: Genivaldo Coimbra
Foto: Ricardo Stuckert/PR