Eleição é grupo. São várias as etapas para se sair vencedor em uma disputa nas urnas, mas a primeira delas consiste na busca de apoios que deem sustentação àquele que pretende ir para a campanha. Ninguém é candidato de si mesmo, diz uma máxima da política.
Por isso, a reunião de siglas em torno de um projeto é uma das primeiras preocupações de um pretenso candidato. A estratégia tem dois efeitos: agregar forças, obviamente, e retirar de cena eventuais adversários diretos ou que poderiam reforçar palanques adversários.
O governador Ronaldo Caiado (União Brasil), em 2022, virou exemplo do quanto esse tipo de articulação pode ser bem-sucedida. Atraiu para sua chapa seu principal adversário, Daniel Vilela (MDB), enfraquecendo a oposição e garantindo a vitória no primeiro turno.
Em Anápolis, alguns grupos começam a se desenhar. Embora muita coisa ainda vai acontecer até que o martelo seja batido, o cenário atual aponta algumas tendências que consolidam a confirmação da polarização direita-esquerda iniciada na eleição presidencial de 2018 e que chegou ao ápice em 2022.
Direita governista com Bolsonaro
A aproximação do prefeito Roberto Naves (PP) com o ex-deputado federal Major Vitor (PL), e a vinda do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a Anápolis a convite do chefe do Executivo, mexeu com o cenário local, refletido, inclusive, no último levantamento de intenção de votos da Paraná Pesquisas/Portal 6.
Vitor Hugo agora é pré-candidato do grupo governista, que tem ainda os nomes de Leandro Ribeiro (PP), Eerizania Freitas (Republicanos) e Márcio Cândido – esse último, o vice-prefeito da cidade, está no PSC, que em breve será Podemos, mas tende a ir para o PSD do senador Vanderlan Cardoso.
Mais do que siglas, as figuras que fazem parte do grupo são reconhecidas pelo eleitor como representantes da direita, que ganha peso considerável a partir de um aceno de Bolsonaro de que pode estar presente na campanha em Anápolis.
Além disso, trata-se de um grupo governista, portanto há o adicional da máquina, com diversas obras em andamento que podem se transformar em um capital eleitoral decisivo para o candidato do prefeito. O desafio, claro, é unir todos em torno de um único projeto e buscar mais um aliado importante, o governador Caiado.
Esquerda petista
O deputado estadual Antônio Gomide (PT), por si só, tem força suficiente para ir para um segundo turno em Anápolis, mas caso pretenda seguir os passos do presidente Lula em 2022, o pré-candidato a prefeito, que irá para sua quarta disputa majoritária em Anápolis, precisará agregar mais partidos ao seu projeto.
É dessa forma que o PT poderá tentar vender a ideia de que uma “frente ampla” é diferente de uma candidatura unicamente petista – e a se julgar pelos últimos resultados, essa é uma questão delicada para uma boa parte do eleitorado anapolino. O deputado federal Rubens Otoni é peça fundamental na busca dos petistas em furar a bolha e atrair partidos de outros campos de pensamento.
O PT está federado com o PCdoB, aliado de sempre de Gomide na cidade, e com o PV, um caso a ser ponderado. O Partido Verde é o seu presidente, Domingos Paula, que já disse ser aliado de Leandro Ribeiro. Ou seja, corre o risco de o PT levar a sigla, mas sem “ninguém” dentro.
Caso siga a aliança nacional, o PT espera ter o PSB na sua chapa. O partido é comandado pelo vereador Jakson Charles, líder do prefeito Roberto na Câmara, que por enquanto não sinalizou qual caminho irá tomar.
Esquerda “mais radical”
O PSOL dos pré-candidatos Edergenio Vieira e Liz Rodrigues não concordam que estejam em um partido da esquerda radical. Eles preferem ser vistos como uma ala mais ligadas aos movimentos populares, mas para o eleitor comum o entendimento é que o PSOL está, dentro do campo do espectro ideológico, mais à esquerda do que o próprio PT, tido pelo senso comum como exemplo desse campo.
Mas chama a atenção o fato de que em Anápolis, além do aliado de federação Rede Sustentabilidade, o PSOL promete tentar atrair algumas siglas que se colocam no extremo: PSTU, PCB, PCO e UP.
MDB vai com quem?
Qual o grupo do MDB de Anápolis quando se fala em alianças partidárias? Essa é uma questão com algumas variáveis. Por enquanto o partido tem dois pré-candidatos bem posicionados nas pesquisas, o suplente Márcio Corrêa e o deputado estadual Amilton Filho, mas ainda não aparece como uma sigla em busca de formar um grupo. A primeira pergunta a ser respondida é se o União Brasil estará com o MDB, repetindo a dobradinha estadual em Anápolis, embora o governador Ronaldo Caiado seja também importante aliado do prefeito Roberto Naves e considera seriamente caminhar ao lado do seu grupo em 2024.
Outro ponto é saber como o MDB irá se posicionar no espectro ideológico direita-esquerda que se desenha para o próximo pleito. O fisiologismo histórico do partido ao longo dos tempos em todo o país faz com que ele não tenha uma identidade clara na cabeça do eleitor. E isso não é bom, porque dá ideia de que se trata de uma terceira via, algo difícil de saber se irá vingar em uma disputa onde a maioria só enxerga dois lados.
PSDB-Cidadania: o passado assusta
A federação já é um grupo, mas o desempenho eleitoral dos tucanos na última disputa municipal em Anápolis assusta seus membros. O PSDB tenta renascer das cinzas desde que o seu líder maior, Marconi Perillo, ficou sem mandato. Em Anápolis, a novidade mais recente é a pré-candidatura anunciada do Cidadania, que tentará protagonizar a chapa majoritária que ainda é uma incógnita se irá existir de fato.
Os avulsos (por enquanto)
Alguns partidos estão presentes no debate e procuram encontrar um grupo para chamar de seu. É o caso do Novo, normalmente uma sigla que sempre está presente nas eleições majoritárias. Ao lado do DC, com a participação de alguns membros do PSD, PRTB e PL, foi anunciado recentemente o bloco que se autointitula Direita Verdadeira, mas os próprios participantes admitem que essa é uma conversa a ser feita no segundo turno.
O PMN parece já ter selado seu destino ao lado do prefeito Roberto Naves. Ou seja, a sigla do vereador Luzimar Silva acompanhará o que o chefe do Executivo decidir em termos de apoio para a próxima disputa.
O PTB, outrora um partido forte na cidade, aguarda a fusão ainda não concluída com o Patriota para que, aí sim, os remanescentes dos dois grupos, que formará o Mais Brasil, comecem a se definir na cidade.
O Agir deve filiar o vereador Frederico Godoy, hoje no Solidariedade, na janela do ano que vem. Godoy é um aliado de Leandro Ribeiro e fiel à base governista de Roberto Naves.
O Avante, do vereador Delcimar Fortunato, já anunciou apoio a uma candidatura do vice Márcio Cândido. Se o fato não se concretizar, a sigla ainda vai decidir qual rumo tomar.
O PRTB promete lançar candidato a prefeito, mas sem fundo partidário, fundo eleitoral ou tempo de televisão e rádio, porque não alcançou a cláusula de barreira, dificilmente o partido fará isso sozinho.