O setor político está vendo o cerco se fechar contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) devido aos últimos acontecimentos envolvendo a venda das joias presenteadas pelo governo da Arabia Saudita e sobre as declarações do hacker Walter Delgatti Neto à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro.
O entorno de Bolsonaro, no entanto, não acredita na possibilidade de uma prisão preventiva pelo impacto político que ela possa causar, conforme informações do analista de política Gustavo Uribe.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, autorizou, na noite da última quinta-feira (17), a quebra os sigilos bancário e fiscal da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e do ex-presidente no Brasil e no exterior.
A decisão também afeta as contas no Brasil e exterior do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, e seu pai, o general da reserva Mauro César Lourena Cid.
De acordo com relatos de investigadores da Polícia Federal, com acesso aos dados fiscais, será avaliado o congelamento das contas bancárias e, eventualmente, a expedição de pedidos de prisão preventiva.
Para aliados do ex-chefe do Executivo, a hipótese provável seria de uma prisão apenas após condenação judicial, como foi o caso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ainda assim, os interlocutores de Bolsonaro iniciaram uma contraofensiva para evitar a possibilidade de depoimentos à Polícia Federal ou de delações premiadas de outros auxiliares que foram presos.
Na sexta-feira (18), por exemplo, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, gravou um vídeo defendendo Max Guilherme e Sérgio Cordeiro.
Os dois, que eram do gabinete pessoal de Bolsonaro, fazem parte da equipe que o ex-presidente tem direito atualmente, e foram detidos na investigação sobre registros falsos de vacinação
O analista de política da Caio Junqueira, no entanto, explica que há outras situações envolvendo Bolsonaro que não foram reveladas pela PF. Os investigadores dizem não ter pressa em avançar com a detenção.
Caso Walter Delgatti Neto
Durante seu depoimento à CPMI, Delgatti, entre outros pontos, disse que Bolsonaro pediu para que ele assumisse a autoria de um grampo que teria sido realizado contra o ministro Alexandre de Moraes.
O hacker também afirmou que o ex-presidente lhe deu “carta branca” para que ele fizesse “o que quisesse” com relação às urnas eletrônicas.
“Ele [Bolsonaro] me deu carta branca para fazer o que eu quisesse relacionado às urnas. Eu poderia, segundo ele, cometer um ilícito que seria anistiado, perdoado, indultado no caso”, declarou Delgatti.
De acordo com informações de Caio Junqueira, a maioria dos aliados bolsonaristas acham que Delgatti está mentindo.
Os aliados
Ainda segundo Caio Junqueira, muitas pessoas do entorno se afastaram de Bolsonaro e de sua família. Alguns ainda se mantém fiéis e duvidam que ele tenha feito algo ilícito.
Esses interlocutores acham que caso o ex-chefe do Executivo seja preso, ele irá virar um “mártir” da direita.
Setor político
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, defendeu que a Polícia Federal apreenda o passaporte de Bolsonaro como forma de evitar que ele saia do país durante as investigações da corporação em curso.
“Não se enganem, busquem o mais rápido possível apreender o passaporte porque quem fugiu para não passar a faixa para um presidente que foi legitimamente eleito pelo povo vai querer abandonar o Brasil para poder salvar a própria pele”, disse na cerimônia de posse do novo presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Marcio Pochmann, na sexta-feira.
“Podemos dizer que o cerco se fechou contra o ex-presidente da República. Está claro, está apontando como autor, como mandante da tentativa de fraude às urnas eletrônicas, tentativa de fraude à decisão sempre legítima do povo brasileiro, de escolher o seu sucessor. A tentativa de violar, de atentar com a democracia brasileira”, disse.
A presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, endossou a fala da ministra. “O covarde pode tentar fugir, mas dessa vez o cerco está se fechando e o inelegível vai pagar por seus crimes”, afirmou.
Para o líder do governo no Congresso Nacional, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), “o enredo golpista” começou antes dos ataques do 8 de janeiro, tendo “motivação clara e, hoje, sabemos, instigado pelo próprio presidente da República Bolsonaro à época, que buscou todos os recursos a seu alcance para corromper o Estado Democrático de Direito”.
O ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Paulo Pimenta, expressou que “o esquema internacional de roubo de patrimônio público foi confirmado”, após o advogado de Mauro Cid, Cezar Bitencourt, dizer que o dinheiro da venda do Rolex foi para o ex-presidente ou para a ex-primeira-dama.
FONTE: AGÊNCIA BRASIL E CNN BRASIL