Por: Redação
Foto Destaque: Reprodução/Evaristo Sa/AFP
A recente decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela de confirmar a reeleição do presidente Nicolás Maduro, embora esperada, causou um impacto significativo nas relações diplomáticas de países das Américas e da União Europeia. Enquanto 11 nações e o bloco europeu publicaram comunicados rejeitando a decisão e exigindo uma transição democrática no país, Brasil e Colômbia optaram por uma abordagem mais cautelosa, iniciando um diálogo para avaliar sua posição oficial.
Na última sexta-feira, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Gustavo Petro discutiram o assunto por telefone, conforme fontes do Itamaraty. Após a conversa, as chancelarias de ambos os países passaram a trabalhar na elaboração de um comunicado conjunto, que deve ser divulgado em breve.
Até o momento, os governos de Brasil e Colômbia emitiram duas notas solicitando a divulgação das atas eleitorais da Venezuela, acompanhados pelo México, que posteriormente se afastou das negociações. A troca de mensagens entre os líderes se intensificou após a decisão do TSJ, que foi anunciada na última quinta-feira.
Liderando os esforços diplomáticos, o chanceler brasileiro Mauro Vieira, mesmo durante sua viagem a Manila, nas Filipinas, entrou em contato com seu homólogo colombiano, Luis Gilberto Murillo, e outros líderes regionais para discutir as repercussões da decisão da Corte Suprema venezuelana.
Na declaração oficial do TSJ, a presidente da Corte, Caryslia Rodríguez, afirmou que a auditoria das eleições foi certificada de forma inapelável, validando os resultados que reconduziram Maduro ao poder. Além disso, o tribunal determinou o sigilo das atas eleitorais, uma medida que gerou críticas e questionamentos internacionais.
O Brasil, por sua vez, sinalizou que não reconhecerá a vitória de Maduro sem a divulgação dos documentos eleitorais, mas também busca evitar um rompimento completo das relações diplomáticas com a Venezuela, considerada estratégica. Até o momento, a posição oficial do governo brasileiro é de promover o diálogo entre o governo venezuelano e a oposição, além de pressionar por maior transparência no processo eleitoral.
No entanto, há sinais de que o Brasil pode adotar um tom mais firme. Recentemente, o presidente Lula criticou abertamente Maduro, afirmando, em entrevista à Rádio T, do Paraná, que ainda não reconhece a reeleição do venezuelano. “Ele sabe que deve uma explicação à sociedade brasileira e ao mundo”, destacou Lula, sugerindo, inclusive, a realização de novas eleições ou a criação de um governo de coalizão na Venezuela, propostas rejeitadas tanto por Maduro quanto pela oposição.
As declarações de Lula causaram desconforto no governo venezuelano, que rejeitou a possibilidade de novas eleições. A expectativa é que um posicionamento oficial mais duro por parte do Brasil possa levar a uma resposta negativa de Maduro, possivelmente resultando na expulsão da embaixadora brasileira, uma medida já adotada contra países como Argentina e Chile que não reconheceram a reeleição de Maduro. Apesar disso, tal medida não significaria, necessariamente, o rompimento total das relações entre os países.
Maduro esperava um apoio mais sólido do governo brasileiro, similar ao que recebeu da China e da Rússia, que rapidamente reconheceram sua vitória. No entanto, sua falta de cumprimento das promessas feitas nos Acordos de Barbados, como a garantia da participação plena da oposição e a transparência no pleito, dificultou a consolidação desse apoio por parte do Brasil e de outras nações.