Operação do MP-GO aponta desvios milionários e agravamento da crise hospitalar na capital
O ex-secretário municipal de Saúde de Goiânia, Wilson Pollara, foi preso nesta quinta-feira (28) em uma operação conduzida pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), que apura irregularidades administrativas e suposta formação de associação criminosa na Secretaria de Saúde. Também foram detidos o secretário executivo Quesede Ayres Henrique e o diretor financeiro Bruno Vianna Primo.
A operação, realizada após meses de investigações, identificou pagamentos “clandestinos” e fora dos canais oficiais, além de favorecimentos ilegais a fornecedores. A prática teria contribuído para o agravamento da crise na saúde pública da capital, que acumula dívidas milionárias e enfrenta sérias dificuldades no atendimento à população.
Investigações revelam pagamentos fora das normas
De acordo com o MP, o esquema envolvia direcionamento de pagamentos para empresas específicas, ignorando a ordem cronológica obrigatória prevista pela Lei de Licitações. O promotor Rafael Correa Costa informou que parte dos valores era repassada “extra caixa”, ou seja, sem registro na contabilidade oficial, o que caracteriza desvio de recursos públicos.
“As investigações mostram que determinados credores foram beneficiados de forma irregular, em detrimento de outros. Isso viola o princípio da impessoalidade e pode configurar crime”, destacou o promotor.
Além disso, foram identificados indícios de tentativa de ocultação de provas, incluindo orientações para que testemunhas não colaborassem com as autoridades. A prisão temporária dos suspeitos foi decretada para garantir o andamento das investigações.
Crise na saúde pública
O MP ressaltou que o esquema aprofundou os problemas financeiros da Secretaria de Saúde de Goiânia, que acumula uma dívida estimada em R$ 300 milhões. Desse total, cerca de R$ 120 milhões são devidos à Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc).
Em agosto deste ano, a Fundahc suspendeu atendimentos em importantes maternidades da capital, como Dona Íris e Célia Câmara, mantendo apenas os procedimentos eletivos. A promotora Marlene Nunes destacou que a rede pública enfrenta dificuldades severas, como falta de leitos e descumprimento de decisões judiciais relacionadas à saúde.
“A situação dos hospitais já era crítica, e a gestão irregular dos recursos só agravou o quadro. O prejuízo afeta diretamente o atendimento à população mais vulnerável”, afirmou a promotora.
Defesa e colaboração da Prefeitura
O advogado de Wilson Pollara, Thiago Peres, criticou a manutenção da prisão e afirmou confiar na obtenção de um habeas corpus para liberar o ex-secretário. “Estamos seguros de que a liminar será concedida pelo Tribunal de Justiça de Goiás”, declarou.
A Prefeitura de Goiânia, por sua vez, informou em nota oficial que está colaborando plenamente com as investigações e reafirmou o compromisso com a transparência na gestão pública.
Carreira marcada por cargos de destaque
Formado em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP), Wilson Pollara possui mestrado e doutorado em clínica cirúrgica. Ele ocupou posições de relevância, como secretário municipal de Saúde de São Paulo entre 2017 e 2018 e superintendente do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE) até 2023.
Apesar da trajetória reconhecida na administração da saúde, Pollara agora enfrenta uma crise que coloca em xeque sua reputação e destaca os desafios da gestão pública em Goiânia. As investigações continuam, com foco em identificar outros envolvidos e garantir a recuperação dos recursos desviados.
Por: Redação
Foto: Diomício Gomes/O Popular