Medida afeta documentos federais e pode agravar desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIAPN, alertam especialistas
O ex-presidente Donald Trump anunciou, em seu discurso de posse, uma nova diretriz para o governo dos Estados Unidos: o reconhecimento oficial de apenas dois gêneros, masculino e feminino. A decisão, que elimina opções como “não-binário” em passaportes, vistos e outros documentos federais, faz parte de uma agenda voltada a reduzir o que Trump classificou como “engenharia social de raça e gênero”.
“Estamos retornando à base do que consideramos essencial para a sociedade norte-americana: família e casamento”, afirmou Trump durante o evento no Capitólio. Ele também destacou que assinará ordens executivas para proibir procedimentos de afirmação de gênero em menores de idade e restringir a presença de pessoas transgênero nas Forças Armadas e nas escolas.
A decisão gerou reações imediatas. Javannah J. Davis, ativista transgênero e líder da organização Wave Women, destacou que a política pode excluir milhões de pessoas e limitar direitos básicos. “Isso impacta diretamente o acesso a serviços médicos, seguros, educação e até a obtenção de documentos. Além disso, reforça o estigma e a marginalização da comunidade trans e não-binária”, alertou.
Brad Sears, diretor do Williams Institute, apontou que a medida contradiz avanços científicos e sociais. “O sexo biológico não é apenas binário. Essa decisão não apaga a existência de mais de 1,6 milhão de pessoas transgênero e centenas de milhares de indivíduos não-binários e intersexuais nos EUA”, explicou. Segundo ele, além das barreiras legais, a política pode afetar negativamente a saúde mental de comunidades vulneráveis.
Especialistas temem que essa diretriz restritiva crie um cenário de exclusão e retrocesso nos direitos conquistados pela comunidade LGBTQIAPN nos últimos anos, dificultando ainda mais a luta por reconhecimento e igualdade.
Por: Manoel Messias
Foto: David Dee Delgado/AFP