Bolsonaro afasta deputado das articulações políticas diretas, mas quer mantê-lo como puxador de votos em Minas Gerais
Nos bastidores da política mineira, uma movimentação silenciosa evidencia um distanciamento entre Jair Bolsonaro (PL) e um de seus principais aliados no estado. Nikolas Ferreira (PL-MG), o deputado federal mais votado do Brasil em 2022 e um dos rostos mais jovens do bolsonarismo, tem sido preterido nas articulações estratégicas conduzidas pelo ex-presidente em Minas Gerais.
O afastamento, no entanto, não significa um rompimento completo. Bolsonaro quer Nikolas atuando como um forte puxador de votos para garantir uma bancada fiel ao bolsonarismo na Câmara dos Deputados em 2026. O problema é que, nas decisões mais sensíveis, o ex-presidente tem preferido tratar com outros parlamentares, deixando Nikolas à margem das conversas decisivas.
Crise na relação
O desgaste entre os dois ficou evidente na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. Nikolas declarou publicamente que seu voto em Hugo Motta (Republicanos-PB) se deu porque “Bolsonaro mandou”. A afirmação pegou mal entre aliados do ex-presidente e foi vista como um erro estratégico. Bolsonaro não gostou de ser retratado como um líder sem autonomia, tampouco da repercussão negativa junto à base bolsonarista, que defendia apoio a Marcel van Hattem (Novo-RS).
Desde então, a interlocução entre Bolsonaro e Nikolas tem sido mediada por terceiros. O deputado mineiro já não tem acesso direto ao ex-presidente e precisa recorrer a intermediários para ser ouvido. O ex-presidente, por sua vez, tem evitado demonstrar qualquer favoritismo, apostando em um jogo político mais amplo para consolidar seu domínio sobre o bolsonarismo em Minas.
Nikolas fora do jogo majoritário
A perda de espaço de Nikolas também se reflete na falta de apoio para um voo mais alto em 2026. Embora o deputado seja um dos nomes mais populares do bolsonarismo jovem, Bolsonaro tem cogitado outras opções para a disputa ao Senado por Minas Gerais. Nos últimos meses, surgiu a especulação de que Paulo Guedes, ex-ministro da Economia, poderia ser a aposta do ex-presidente para o cargo.
Com essa configuração, Nikolas Ferreira deve permanecer como um trunfo eleitoral para a formação de uma bancada forte no Legislativo, mas sem protagonismo nas principais articulações do bolsonarismo mineiro. A dúvida que fica é se o deputado aceitará esse papel ou tentará se reposicionar dentro do grupo político.
Por: Genivaldo Coimbra
Foto: Reprodução