Pesquisa da CGU revela que 42,4% dos beneficiários desconhecem o Meu INSS; governo amplia atendimento presencial para vítimas de fraudes
Quase metade dos aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) afirma desconhecer o aplicativo Meu INSS, principal canal para contestar e reaver valores descontados indevidamente de seus benefícios. Levantamento divulgado pela Controladoria-Geral da União (CGU) aponta que 42,4% dos entrevistados nunca ouviram falar da ferramenta.
A pesquisa, realizada em meio à apuração de um esquema de descontos ilegais dentro do INSS, também revelou que 25,1% dos beneficiários conhecem o aplicativo, mas nunca o utilizaram. Apenas 32,4% relataram já ter feito uso da plataforma, que é fundamental para que os segurados identifiquem cobranças irregulares e solicitem a devolução dos valores.
Desde o dia 14 de maio, aposentados e pensionistas podem pedir ressarcimento pelos descontos indevidos por meio do aplicativo, do site oficial ou pela Central de Atendimento 135. A medida, entretanto, esbarra na dificuldade de acesso digital, especialmente entre idosos e moradores de áreas rurais.
Segundo a CGU, a falta de familiaridade com tecnologias e a dificuldade em navegar nas plataformas virtuais são os principais obstáculos enfrentados pelos beneficiários. “A utilização de ferramentas digitais por uma minoria limita a capacidade de o cidadão identificar descontos realizados sem sua autorização”, alertou o órgão.
A professora aposentada Carla Maria, de 59 anos, relata insegurança ao utilizar serviços digitais devido ao risco de golpes. “É muita informação pedida, muitas etapas para chegar à resposta. A tecnologia facilitou a vida, mas também a deixou mais perigosa”, diz. Márcia Coelho, 78 anos, compartilha da mesma dificuldade: “Sempre me perco com as senhas e acabo recorrendo a parentes.”
Outro fator que agrava a situação é a localização das vítimas: 67% dos descontos indevidos ocorreram em benefícios de pessoas que vivem em áreas rurais, onde o acesso à internet e aos serviços presenciais do INSS é mais limitado.
Diante desse cenário, o governo anunciou uma parceria com os Correios para ampliar o atendimento presencial. A partir de 30 de maio, 4.730 agências da estatal passarão a oferecer suporte para que aposentados e pensionistas possam solicitar a devolução de valores sem depender exclusivamente de canais digitais.
“O atendimento olho no olho será feito aos mais vulneráveis, que têm dificuldade com a tecnologia e que querem acolhimento e atenção personalizada”, afirmou o ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz.
A advogada Fabiana Longhi, especialista em direito do idoso, lembra que é dever do INSS garantir alternativas acessíveis e eficientes para quem tem dificuldade com meios digitais. “A legislação prevê prioridade no atendimento, mas também exige serviços que assegurem acessibilidade, segurança e atualização das informações”, reforça.
Como parte dos esforços para ampliar o acesso digital, o governo federal desenvolveu o projeto Balcão Gov.br, em parceria com estados e municípios. Os balcões contam com profissionais treinados para orientar cidadãos sobre o uso do site e aplicativo gov.br, que reúne mais de 4.500 serviços públicos digitais.
A expectativa é que, com essas medidas, mais beneficiários consigam identificar e contestar descontos indevidos, recuperando valores e evitando novos prejuízos.
Por: Genivaldo Coimbra
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil –