Por: Sidney Araujo
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Uma importante pesquisa apresentada em um congresso anual da Filadélfia, nos Estados Unidos, revelou algumas informações relevantes no tratamento de pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM) e anemia, se tornando um marco para a cardiologia global
O estudo, liderado no Brasil pelo Dr. Renato Lopes, fundador do Brazilian Clinical Research Institute (BCRI), e professor de medicina da Divisão de Cardiologia da Duke University, avaliou mais de 3.500 pacientes hospitalizados com IAM e anemia, entre 2017 e 2023. Os pacientes cujo alvo de hemoglobina foi acima de 10g/dL (estratégia de tratamento chamada de “transfusão sanguínea liberal”) tiveram 2,4% a menos de mortalidade cardiovascular quando comparados com aqueles cujo alvo de hemoglobina foi ao redor de 8g/dL (estratégia de tratamento chamada “transfusão restritiva”).
“O MINT traz evidências robustas para ajudar na tomada de decisão em uma situação clínica importante que os médicos enfrentam todos os dias: sobre qual estratégia de transfusão – entre a liberal e a restritiva – como conduta de preferência para pacientes que tiveram ataque cardíaco e anemia (com hemoglobina abaixo de 10g/dL), de forma a melhorar suas taxas de sobrevida, reduzindo o risco de recorrência de infarto”, explica Lopes.
Resultados da pesquisa trazem bons indicativos para os cardiologistas
O ensaio clínico randomizado envolveu 144 hospitais nos Estados Unidos, Canadá, França, Brasil, Nova Zelândia e Austrália, com o patrocínio do National Institutes of Health (NIH), agência de pesquisas do governo estadunidense.
Os participantes tinham a idade média de 72 anos; 45% são mulheres e 55% homens. Todos tiveram episódios de ataques cardíacos e uma contagem de hemoglobina inferior a 10 g/dL. A hemoglobina normal é 12-13. No fim, os resultados mostraram que administração de transfusões de sangue para manter o hemograma superior a 10 pode melhorar a saúde do paciente
Lopes, que também é membro do comitê executivo global do estudo, explica que os resultados têm alto impacto na sociedade, já que as doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade na população mundial e mais de três quartos dessas mortes ocorrem em países de baixa e média renda, como o Brasil.
“A anemia é comum entre pessoas hospitalizadas com ataque cardíaco. Estudos anteriores sobre estratégias de transfusão para esses pacientes produziram resultados conflitantes: por um lado dar mais transfusões de sangue parecia aumentar a quantidade de oxigênio para o coração e melhorar os desfechos clínicos dos doentes.
Por outro lado, administrar mais transfusões de sangue pode aumentar o risco de sobrecarga de líquidos, insuficiência cardíaca e reações alérgicas. Essa incerteza sobre quando e quanto se transfundir levou ao ensaio MINT, cujos resultados certamente auxiliarão os médicos a tomarem decisões embasadas no que temos de mais atual na literatura científica, o que caracteriza a missão do BCRI.”
Entenda a relação entre o infarto agudo do miocário e a anemia
A principal causa do infarto agudo do miocárdio é uma obstrução de uma artéria coronária, causada por um coágulo, que interrompe o fluxo de sangue. Com a falta de sangue, células do coração morrem, gerando necrose. “Se há falta de sangue na região do coração, há também carência de hemácias para garantir uma oxigenação adequada e na presença de anemia essa situação é ainda mais grave.
Por isso, a transfusão de sangue em uma estratégia mais liberal visando uma hemoglobina acima de 10g/dL é uma estratégia importante que auxilia a melhor oxigenação do coração e demais órgãos levando, de forma segura, a um melhor prognóstico do paciente”, finaliza Lopes.