Material inclui horas de depoimentos e revela bastidores das investigações
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, tornou públicos nesta quinta-feira (20) os vídeos da delação premiada do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid.
Os depoimentos foram colhidos pela Polícia Federal (PF) no ano passado. A transcrição dessas falas já havia sido divulgada na quarta-feira, mas os arquivos de áudio e vídeo permaneciam sob sigilo até agora.
A liberação das mídias acontece um dia após a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentar denúncia contra Bolsonaro por cinco crimes:
- Liderança de organização criminosa armada;
- Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- Golpe de Estado;
- Dano qualificado por violência e grave ameaça contra patrimônio da União;
- Deterioração de patrimônio tombado.
Caso o STF aceite a denúncia, o ex-presidente se tornará réu e passará a responder judicialmente.
Momentos-chave dos vídeos divulgados:
Moraes repreende Cid e reforça regras da delação
Em uma das gravações, o ministro Alexandre de Moraes adverte Mauro Cid após a PF identificar contradições e omissões em seus depoimentos. O magistrado lembra que fornecer informações falsas pode resultar na revogação do acordo de delação, o que afetaria não apenas Cid, mas também seus familiares, incluindo seu pai e sua filha.
Moraes mencionou ainda que a Procuradoria-Geral da República chegou a solicitar a prisão preventiva do ex-ajudante de ordens devido às inconsistências detectadas durante a investigação sobre o chamado Plano Punhal Verde Amarelo, que supostamente previa atentados contra figuras como Lula, Alckmin e o próprio Moraes.
Bolsonaro pressionou ministro da Defesa, diz Cid
Em outro trecho, Mauro Cid afirma que Jair Bolsonaro pressionou o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, para que relatasse fraudes no sistema eleitoral, mesmo sem provas.
De acordo com Cid, houve uma tentativa de moldar a narrativa do relatório para sugerir que as urnas eletrônicas não eram auditáveis – alegação já desmentida pelo Tribunal Superior Eleitoral. No fim, o documento apenas destacou que não era possível comprovar qualquer suspeita de fraude.
“O presidente queria que ele [o então ministro da Defesa] escrevesse que tivesse fraude”, revelou Cid.
As Forças Armadas participaram da fiscalização das eleições a convite do TSE, e por isso o Ministério da Defesa elaborou o relatório mencionado.
Bolsonaro tentava manter apoio de seus eleitores
Outro trecho da delação mostra Cid afirmando que Bolsonaro e seus aliados mantinham a “chama acesa” entre os apoiadores, sugerindo que algo poderia acontecer para reverter o resultado das eleições presidenciais.
Segundo Cid, ele recebia milhares de mensagens de aliados e eleitores cobrando uma reação. “Perguntavam se a gente não ia virar a mesa”, declarou.
A expectativa era alimentada por falas de Bolsonaro e de seus aliados sobre uma suposta fraude nas eleições – o que nunca se comprovou.
Por: Redação
Foto: Reprodução/g1