Por: Sidney Araujo
Foto Destaque: Joédson Alves/Agência Brasil
Seja no intervalo do telejornal, patrocínio de grandes equipes e campeonatos de futebol ou até um anúncio nos stories de influenciadores e enquanto você navega em um site, os jogos virtuais estão cada dia tomando conta do cenário midiático, sendo nas mídias tradicionais ou em plataformas digitais.
De acordo com o presidente do Instituto Jogo Legal, Magno José Santos de Sousa, estima-se que existam mais de dois mil sites de apostas esportivas em operação no Brasil. Porém, muitas dessas empresas ainda não se regularizaram e, por isso, o número exato ainda é incerto.
Com o mercado em expansão e a regulamentação prevista para 2025, é previsto um crescimento ainda maior por conta do aumento de apostadores. Segundo levantamento recente do Instituto Locomotiva, cerca de 52 milhões já apostaram na modalidade ao menos uma vez, sendo há seis meses esse número estava na casa dos 38 milhões.
“As apostas começaram por quem tem mais conhecimento de futebol e foram crescendo no dia a dia dos consumidores. Foi saindo do perfil do “boleiro” e indo mais para a sociedade de uma maneira geral”, disse Renato Meirelles, presidente do Locomotiva.
Ainda este ano, espera-se que o Brasil movimente 130 bilhões do mercado de apostas – dados da Strategy&, consultoria estratégica da PwC. O número segue em crescimento, já que em 2023 o valor ficou entre R$ 67 bilhões e quase R$ 95 bilhões, o que equivale a quase 1% do PIB do país.
Brasileiros estão deixando de comer e investir em lazer para apostar
Com o mercado de apostas em crescimento, isso poderia ser um ponto positivo em relação ao setor de publicidade e marketing, pois o investimento em peças e campanhas de anúncios nas redes sociais, TV, rádio, jornal, sites e outras plataformas só cresce e, assim, eleva o faturamento deste nicho no país.
Porém, o aumento os jogos virtuais, como bets e os do tipo ‘Tigrinho’ vêm afetando o orçamento do brasileiro, principalmente os mais pobres. Isso aconteceu porque foi observado, de acordo com o Itaú, que os brasileiros estão apostando mais e, pior que isso, estão deixando de injetar o dinheiro no mercado de consumo, como o de alimentação.
Segundo o levantamento do banco, o país movimentou cerca de R$ 68 bilhões em jogos virtuais. Esse número vem preocupando os varejistas e, por isso, consultorias, institutos de pesquisa e bancos vêm tentando entender o poder de influência dessas atividades em relação aos gastos essenciais, como supermercado, lazer e outros bens de consumo.
Em um evento no Rio, neste mês de agosto, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que parte do dinheiro das famílias poderiam estar saindo da poupança e ‘vazando’ para as apostas. Ou seja, as pessoas estão deixando de comer, beber, sair e até guardar dinheiro para investimentos futuros só para apostar.
O que assusta ainda mais é que o efeito é ainda mais devastador nas classes D e E, que são os mais pobres. Segundo os analistas da PwC, as apostas já representam 1,38% do orçamento médio familiar entre os que têm uma menor renda.
Empresas acendem o alerta para o crescimento das BETs
O crescimento do número de apostadores vem deixando os empresários dos setores do varejo cada vez mais preocupados. Sabendo que alguns indicadores macroeconômicos mostram números positivos, como a queda do desemprego, aumento dos salários e o controle da inflação, as apostas acabam explicando o baixo desempenho das vendas nos últimos meses.
Recentemente, o banco Santander soltou um relatório que indicou que as apostas vêm sendo um dos fatores de deslocamento de investimento dos brasileiros. De acordo com o levamento do banco, as apostas chegam a afetar 2,7% da renda das famílias brasileiras. Número que está em crescimento, já que em 2018 a taxa era de 0,8%.
Dessa forma, é perceptível que as pessoas estão deixando de gastar com roupas, calçados, eletrônicos, móveis e supermercado por conta do mercado de apostas esportivas. “Não é mais só Renner concorrendo com C&A ou Shein, mas também com as bets”, revela Ruben Couto, analista de varejo do Santander, em entrevista ao Jornal O Globo.
Em apresentações internas, empresas varejistas já colocam as bets como um concorrente tal qual os sites de compras internacionais. A estimativa que circula entre executivos do setor é de que o “efeito bets” represente um desconto de 5% no faturamento do varejo hoje.