Embora admirasse a letra, Lennon rejeitou a versão final de “Across The Universe” e criticou a gravação feita para o álbum Let It Be
John Lennon, um dos maiores ícones do rock e autor de clássicos como “Help!” e “All You Need Is Love”, revelou ao longo de sua trajetória que nem todas as suas composições favoritas foram bem recebidas por ele mesmo. Um dos casos mais emblemáticos é o de “Across The Universe”, escrita em 1968 e lançada no álbum Let It Be (1970).
Apesar de reconhecer a qualidade da letra, Lennon classificou a gravação da música como “péssima” e se mostrou profundamente decepcionado com o resultado. Em entrevista registrada no livro All We Are Saying: The Last Major Interview With John Lennon and Yoko Ono (2000), de David Sheff, o artista desabafou:
“Era uma péssima gravação de uma ótima música, e isso me decepcionou muito. Ela nunca foi lançada originalmente como parte dos Beatles; eu a dei para o Fundo de Vida Selvagem do Reino Unido. Depois, quando chamaram o Phil Spector para produzir o Let It Be, ele encontrou a faixa e adicionou overdubs.”
O desgosto de Lennon ia além da gravação: ele associava a sua insatisfação ao seu estado emocional na época, como revelou:
“As guitarras estão desafinadas e eu estou cantando desafinado porque estou psicologicamente destruído, e ninguém está me apoiando ou me ajudando com isso, e a música nunca foi feita da forma correta.”
Lennon também não escondia sua mágoa com Paul McCartney. Segundo ele, havia uma tendência de priorizar as canções de Paul, enquanto as suas, mesmo as mais importantes, eram tratadas com menos cuidado:
“Normalmente, passávamos horas cuidando dos mínimos detalhes das músicas do Paul; mas quando era uma das minhas, especialmente se fosse uma grande música como ‘Strawberry Fields’ ou ‘Across the Universe’, de alguma forma surgia um clima de relaxamento, de casualidade e de experimentação. Sabotagem subconsciente.”
Além de “Across The Universe”, Lennon também tinha ressalvas com outras obras icônicas, como “Strawberry Fields Forever” e “Lucy In The Sky With Diamonds”, que considerava mal gravadas ou mal finalizadas.
Em sua visão, McCartney, mesmo que de forma inconsciente, tentava interferir ou “destruir” algumas de suas criações mais significativas:
“Eu acho que, inconscientemente, às vezes nós — e digo ‘nós’, embora ache que o Paul fazia isso mais do que o resto de nós — meio que tentávamos destruir uma grande música de forma subconsciente.”
Assim, a relação criativa entre Lennon e McCartney, apesar de ter gerado algumas das maiores obras da história da música, também foi marcada por tensões e ressentimentos profundos.
Por: Redação/Via portal Terra
Foto: Don Paulsen / Michael Ochs Archives / Getty Images / Rolling Stone Brasil