Oposição terá dificuldade contra máquina governista na maioria das cidades entre as que possuem maior número de eleitores
Com base nos dados do TSE, só os dez maiores colégios eleitorais goianos representam quase a metade dos votos de todo o Estado (48,59%). Quatro deles fazem parte da Grande Goiânia: além da capital, Aparecida, Senador Canedo e Trindade integram a lista. Outros quatro municípios do ranking estão na região do Entorno do Distrito Federal: Águas Lindas, Formosa, Luziânia e Valparaíso de Goiás. Anápolis e Rio Verde completam o top 10.
As quatro cidades da Grande Goiânia listadas entre as dez mais, juntas, já somam quase um terço de todo o eleitorado do Estado (31,62%). Os quatro municípios do Entorno que constam na lista, somados, abocanham 8,16% de todos os votos das urnas goianas. E isso sem contar todas as outras cidades dessas regiões e seus respectivos eleitores.
Dentro dessa amostra, que, eleitoralmente falando, é um termômetro por representar praticamente a metade de Goiás, é possível medir a força dos partidos. Quatro dos dez prefeitos das cidades goianas com o maior número de eleitores são do partido do governador, o União Brasil: Paulo do Vale, de Rio Verde; Diego Sorgatto, de Luziânia; Marden Júnior, de Trindade, e Fernando Pellozo, de Senador Canedo.
Rio Verde também segue a mesma lógica. No Sudoeste goiano, o prefeito Paulo do Vale deve apoiar o médico Wellington Carrijo, do MDB, mantendo-se fiel à base do governador. Apesar da oposição estar se articulando, pesquisas recentes mostram que Paulo do Vale conseguiria transferir mais votos para seu sucessor do que Lula e Bolsonaro juntos. Frise-se: ele mantém ligação com o agro, pois, além de médico, é produtor rural.
Em Trindade, o peso do apoio do governo Caiado fez com que o ex-prefeito e ex-tucano Jânio Darrot, que está prestes a se filiar ao MDB, desistisse de ser candidato para apoiar a reeleição de Marden Júnior. Mais uma vez, a dobradinha MDB e União Brasil deve prevalecer e promete vir forte, com grande chance de levar a prefeitura da capital da fé. O MDB deve lançar o vice.
Em Senador Canedo não é muito diferente e Fernando Pellozo é o candidato de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela. Nas pesquisas, ele é o favorito, mesmo se a ex-primeira dama Izaura Cardoso (PSD), mulher do senador Vanderlan Cardoso (PSD), for candidata. Vários secretários da Prefeitura de Senador Canedo são indicados por Vanderlan Cardoso — inclusive uma irmã do senador —, o que sugere que não há, ao menos por enquanto, rompimento com o prefeito. O MDB de Senador Canedo, por sua vez pode ter candidato próprio nas eleições para prefeito, são eles o ex-deputado estadual Henrique Arantes e o jornalista Alexandre Braga.
Mas a base de Caiado entre os prefeitos da lista dos “dez mais” é, na prática, ainda maior e tem crescido a cada dia. O MDB, partido do vice-governador Daniel Vilela (o sucessor natural do governador no Palácio das Esmeraldas), conta atualmente com um chefe do executivo municipal: Pábio Mossoró, de Valparaíso de Goiás. Na cidade do Entorno, a candidata deve ser a deputada estadual Zeli Fritsche, que terá o apoio do governo. Ela é filiada ao União Brasil.
O MDB pode somar mais prefeitos até o início da corrida eleitoral, em 2024. O prefeito de Aparecida de Goiânia, Vilmar Mariano, até então no Patriota, deve oficializar a sua filiação ao partido do vice-governador nesta semana, juntamente com o ex-prefeito Gustavo Mendanha, uma espécie de “Bolsonaro” aparecidense — que deve ser a grande força política nas próximas eleições.
Na cidade, o deputado federal Professor Alcides Ribeiro (PL) tem a dura missão de derrotar o candidato de Mendanha. E, nesta empreitada, pode acabar isolado. A deputada federal Magda Mofatto (ela é de Caldas Novas, mas pôs os pés políticos em Aparecida), do Mais Brasil, deve apoiar Vilmar Mariano. E aí não tem Bolsonaro — o original, no caso — que dê jeito. Além disso, há a possibilidade de Delegado Waldir Soares (União Brasil) trocar o Detran pela disputa da Prefeitura de Aparecida, um nome bem-visto tanto por bolsonaristas quanto por governistas.
Enquanto isso, a situação em Goiânia segue indefinida. A tendência é que a dobradinha do União Brasil com o MDB se repita na capital. A filha de Iris Rezende, Ana Paula dos Iris, ainda não estaria 100% convicta em disputar o cargo de prefeita. Se disser sim, seria a escolha pacificada. Mas, caso decline, ainda não existe um consenso sobre quem seria o representante governista na disputa. E, se decidir ser candidata tardiamente, pode enfraquecer a base governista na cidade que tem o maior número de eleitores de Goiás.
Na oposição, a deputada federal Adriana Accorsi pode ser o nome do PT para a disputa, com a chancela do presidente Lula da Silva. Entre os possíveis candidatos, tem ainda o senador Vanderlan Cardoso (PSD), que atualmente lidera as pesquisas (quando se retira o nome de Gustavo Mendanha). Já a candidatura do prefeito Rogério Cruz à reeleição não estaria sacramentada. Articuladores e especialistas temem uma derrota expressiva, mesmo com a máquina na mão.
Nos próximos meses, as cartas começam a ser reveladas e nomes podem ser oficializados ou trocados até a confirmação da candidatura pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Mas, se as eleições fossem hoje, a situação parece estar bem mais favorável ao governo, que pode se fortalecer em 2024, enfraquecendo ainda mais a oposição para 2026. Prova de que a dobradinha Caiado-Daniel de 2022 foi uma cartada de mestre que ainda pode influenciar o resultado nas urnas por um bom tempo. Mas, isso, só o tempo dirá.