Nas últimas eleições, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), estavam aptos a votar em Goiás 4.870.354 eleitores. No ano que vem, eles voltarão às urnas para eleger os novos prefeitos e vereadores. Porém, mais do que isso, o próximo pleito servirá servirá como aquecimento para 2026. Neste pleito, a oposição será capaz de derrotar os candidatos da base do governador Ronaldo Caiado (UB)?

Com base nos dados do TSE, só os dez maiores colégios eleitorais goianos representam quase a metade dos votos de todo o Estado (48,59%). Quatro deles fazem parte da Grande Goiânia: além da capital, Aparecida, Senador Canedo e Trindade integram a lista. Outros quatro municípios do ranking estão na região do Entorno do Distrito Federal: Águas Lindas, Formosa, Luziânia e Valparaíso de Goiás. Anápolis e Rio Verde completam o top 10.

As quatro cidades da Grande Goiânia listadas entre as dez mais, juntas, já somam quase um terço de todo o eleitorado do Estado (31,62%). Os quatro municípios do Entorno que constam na lista, somados, abocanham 8,16% de todos os votos das urnas goianas. E isso sem contar todas as outras cidades dessas regiões e seus respectivos eleitores.

Dentro dessa amostra, que, eleitoralmente falando, é um termômetro por representar praticamente a metade de Goiás, é possível medir a força dos partidos. Quatro dos dez prefeitos das cidades goianas com o maior número de eleitores são do partido do governador, o União Brasil: Paulo do Vale, de Rio Verde; Diego Sorgatto, de Luziânia; Marden Júnior, de Trindade, e Fernando Pellozo, de Senador Canedo.

Rio Verde também segue a mesma lógica. No Sudoeste goiano, o prefeito Paulo do Vale deve apoiar o médico Wellington Carrijo, do MDB, mantendo-se fiel à base do governador. Apesar da oposição estar se articulando, pesquisas recentes mostram que Paulo do Vale conseguiria transferir mais votos para seu sucessor do que Lula e Bolsonaro juntos. Frise-se: ele mantém ligação com o agro, pois, além de médico, é produtor rural.

Em Trindade, o peso do apoio do governo Caiado fez com que o ex-prefeito e ex-tucano Jânio Darrot, que está prestes a se filiar ao MDB, desistisse de ser candidato para apoiar a reeleição de Marden Júnior. Mais uma vez, a dobradinha MDB e União Brasil deve prevalecer e promete vir forte, com grande chance de levar a prefeitura da capital da fé. O MDB deve lançar o vice.

Em Senador Canedo não é muito diferente e Fernando Pellozo é o candidato de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela.  Nas pesquisas, ele é o favorito, mesmo se a ex-primeira dama Izaura Cardoso (PSD), mulher do senador Vanderlan Cardoso (PSD), for candidata. Vários secretários da Prefeitura de Senador Canedo são indicados por Vanderlan Cardoso — inclusive uma irmã do senador —, o que sugere que não há, ao menos por enquanto, rompimento com o prefeito. O MDB de Senador Canedo, por sua vez pode ter candidato próprio nas eleições para prefeito, são eles o ex-deputado estadual Henrique Arantes e o jornalista Alexandre Braga.

Mas a base de Caiado entre os prefeitos da lista dos “dez mais” é, na prática, ainda maior e tem crescido a cada dia. O MDB, partido do vice-governador Daniel Vilela (o sucessor natural do governador no Palácio das Esmeraldas), conta atualmente com um chefe do executivo municipal: Pábio Mossoró, de Valparaíso de Goiás. Na cidade do Entorno, a candidata deve ser a deputada estadual Zeli Fritsche, que terá o apoio do governo. Ela é filiada ao União Brasil.

O MDB pode somar mais prefeitos até o início da corrida eleitoral, em 2024. O prefeito de Aparecida de Goiânia, Vilmar Mariano, até então no Patriota, deve oficializar a sua filiação ao partido do vice-governador nesta semana, juntamente com o ex-prefeito Gustavo Mendanha, uma espécie de “Bolsonaro” aparecidense — que deve ser a grande força política nas próximas eleições.

Na cidade, o deputado federal Professor Alcides Ribeiro (PL) tem a dura missão de derrotar o candidato de Mendanha. E, nesta empreitada, pode acabar isolado. A deputada federal Magda Mofatto (ela é de Caldas Novas, mas pôs os pés políticos em Aparecida), do Mais Brasil, deve apoiar Vilmar Mariano. E aí não tem Bolsonaro — o original, no caso — que dê jeito. Além disso, há a possibilidade de Delegado Waldir Soares (União Brasil) trocar o Detran pela disputa da Prefeitura de Aparecida, um nome bem-visto tanto por bolsonaristas quanto por governistas.

Enquanto isso, a situação em Goiânia segue indefinida. A tendência é que a dobradinha do União Brasil com o MDB se repita na capital. A filha de Iris Rezende, Ana Paula dos Iris, ainda não estaria 100% convicta em disputar o cargo de prefeita. Se disser sim, seria a escolha pacificada. Mas, caso decline, ainda não existe um consenso sobre quem seria o representante governista na disputa. E, se decidir ser candidata tardiamente, pode enfraquecer a base governista na cidade que tem o maior número de eleitores de Goiás.

Na oposição, a deputada federal Adriana Accorsi pode ser o nome do PT para a disputa, com a chancela do presidente Lula da Silva. Entre os possíveis candidatos, tem ainda o senador Vanderlan Cardoso (PSD), que atualmente lidera as pesquisas (quando se retira o nome de Gustavo Mendanha). Já a candidatura do prefeito Rogério Cruz à reeleição não estaria sacramentada. Articuladores e especialistas temem uma derrota expressiva, mesmo com a máquina na mão.

Nos próximos meses, as cartas começam a ser reveladas e nomes podem ser oficializados ou trocados até a confirmação da candidatura pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Mas, se as eleições fossem hoje, a situação parece estar bem mais favorável ao governo, que pode se fortalecer em 2024, enfraquecendo ainda mais a oposição para 2026. Prova de que a dobradinha Caiado-Daniel de 2022 foi uma cartada de mestre que ainda pode influenciar o resultado nas urnas por um bom tempo. Mas, isso, só o tempo dirá.